by Marcia Serante

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Sinais em contexto escolar

Plano de aula inclusivo

sábado, 22 de maio de 2010

Livro - Idéias para ensinar português para alunos surdos

Idéias para ensinar português para alunos surdos
Ronice Müller de Quadros
Idéias para ensinar português para alunos surdos
Ronice Müller de Quadros
Magali L. P. Schmiedt
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Quadros,Ronice Müller de.
Idéias para ensinar português para alunos surdos / Ronice Muller Quadros, Magali L. P.
Schmiedt. – Brasília : MEC, SEESP, 2006.
120 p.
1. Educação de surdos. 2. Ensino da língua portuguesa I.Schmiedt, Magali L. P. II. Brasil.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. III. Título.
CDU 376.33
Capa: Victor Emmanuel Carlson
Projeto Gráfico: Lagoa Editora
Impressão: Gráfica Pallotti (Porto Alegre/RS)
Agradecemos a todos colegas professores que direta ou
indiretamente contribuíram com as idéias expostas aqui. Nós,
enquanto professoras, entre os corredores e reuniões, conversávamos
sobre como ensinar português para surdos. Aqui, então, registramos
nossas idéias que resultam de milhares de idéias.
Agradecemos também às escolas que nos deram
oportunidades de criar, trocar, ensinar e aprender sobre a educação
de surdos: Escola Especial Concórdia, Escola Municipal Helen
Keller, Escola Frei Pacífico, Escola Estadual Lilian Mazeron,
Escola Estadual Nossa Senhora da Conceição e Fundação Catarinense
de Educação Especial.
Agradecemos também aos nossos professores de vários
cursos que fizemos ao longo da nossa atuação enquanto professoras
do ensino fundamental.
Sumário
Apresentação........................................................................................................................7
Prefácio...............................................................................................................9
Capítulo 1. As línguas no contexto da educação de surdos.......................13
1.1 Introdução.......................................................................................13
1.2 Educação bilíngüe no contexto do aluno surdo..................18
1.2.1 O que é afinal educação bilíngüe.........................................18
1.2.2 Aquisição das línguas e a criança surda.............................19
1.2.3 A libras e a sua importância no processo de
alfabetização em língua portuguesa...........................25
1.2.4 Estágios de interlíngua na aprendizagem
da língua portuguesa........................................................32
1.2.5 Alfabetização em português no contexto
do aluno surdo....................................................................40
Capítulo 2. Sugestões de atividades para o ensino da língua
portuguesa para surdos...................................................45
2.1 Trabalhando com o “saco das novidades”.............................45
2.2 Trabalhando com o “saco surpresa”..........................................54
2.3 Trabalhando com “mesas diversificadas”................................60
2.4 Trabalhando com “vivências”......................................................67
2.5 Trabalhando com “leitura e vocabulário”..............................74
2.6 Trabalhando com “produção escrita”......................................84
Capítulo 3. Recursos didáticos...........................................................................99
Referências.............................................................................................................118
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7
Apresentação
A educação constitui direito de todos os cidadãos brasileiros, surdos ou
não, e cabe aos sistemas de ensino viabilizar as condições de comunicação que
garantam o acesso ao currículo e à informação.
A Língua Brasileira de Sinais - Libras e a Língua Portuguesa são as línguas
que permeiam a educação de surdos e se situam politicamente enquanto direito.
A aquisição dos conhecimentos em língua de sinais é uma das formas de garantir
a aquisição da leitura e escrita da língua portuguesa pela criança surda.
O ensino da língua de sinais e o ensino de português, de forma consciente, é
um modo de promover o processo educativo.
O Português é a língua oficial do País, uma segunda língua para pessoas
surdas o que exige um processo formal para sua aprendizagem.
Idéias para ensinar Português para surdos na educação regular, de Ronice
Müller de Quadros e Magali Schmiedt, é um livro que permite a reflexão de
professores de alunos surdos que se encontram nos anos iniciais do ensino
fundamental que buscam uma perspectiva bilíngüe.
O objetivo deste livro é apresentar essas questões, pensar sobre elas e
apresentar sugestões de como desenvolver atividades para ensinar o Português
considerando o contexto apresentado.
8
O ensino de Português para alunos surdos fundamenta-se em bases teóricas
e em práticas de professores. Trata-se de um material que aborda a forma bilíngüe
de efetivar a alfabetização de crianças com surdez, podendo colaborar com a
formação continuada de professores, de forma a melhorar a qualidade da
educação.
Estamos certos de que o respeito à diferença lingüística e sociocultural das
crianças surdas está assegurado.
Cláudia Dutra
Secretária da Educação Especial
MEC/SEESP
Idéias para ensinar português para alunos surdos
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Prefácio
Este livro foi pensado para os professores que estão diante do aluno surdo.
Temos tido contato com professores de diferentes partes do país e percebemos
que eles necessitam de idéias, “dicas” mais concretas, para introduzir a língua
portuguesa para crianças surdas.
Esses professores dão aula no ensino fundamental, ministram aulas na rede
regular de ensino, ou em turmas em que a língua de instrução é a língua de
sinais, ou são professores em escolas regulares de surdos, ou, ainda, são professores
da sala de recursos. Normalmente, não são professores surdos e não são
falantes nativos da língua brasileira de sinais. E são estes professores que usam a
língua de sinais com as crianças surdas no contexto educacional. Faz-se necessário
reconhecer que a língua de sinais é uma segunda língua para eles e, portanto,
requer anos de estudo e prática para ser bem compreendida e produzida. Não
basta ter um vocabulário enorme de uma língua, a pessoa precisa “entrar” na
língua, “viver” a língua para poder ensinar por meio dela. Como isso está em
processo, normalmente os professores que trabalham com surdos são modelos
de sistemas de interlíngua.
Entre a primeira e a segunda língua, vários autores
identificam a existência da interlíngua, um sistema
que apresenta características lingüísticas específicas
com diferentes níveis de sofisticação até se
10
aproximarem da língua alvo, no caso, a língua
brasileira de sinais (para mais detalhes ver Ellis,
1993).
Muitas vezes, esses professores acreditam que o que usam seja a língua de
sinais. Isso tem implicações no processo educacional da criança surda. A escola
deve buscar alternativas para garantir à criança acesso aos conhecimentos
escolares na língua de sinais e o ensino da língua portuguesa como segunda
língua.
Observamos que a maioria dos professores quer garantir um ensino da
língua portuguesa mais eficiente para o seu aluno surdo, atentando para o seu
processo de aprendizagem. Além disso, eles buscam tornarem-se bons professores
de língua portuguesa em uma perspectiva bilíngüe e querem saber como se
ensina português como segunda língua para surdos.
Primeiramente, a proposta deste livro é situar o professor na educação
bilíngüe (língua de sinais e língua portuguesa) no contexto sócio-cultural do
processo educacional do aluno surdo. No capítulo 1, apresentamos alguns conceitos
e discutimos o contexto da educação de surdos no Brasil na perspectiva
da educação bilíngüe tendo a língua de sinais como língua de instrução e a
língua portuguesa escrita como segunda língua.
No capítulo 2, foco principal deste livro, apresentamos várias propostas
de atividades que foram amplamente usadas na educação de surdos. Todas as
atividades estão relacionadas com o ensino da língua portuguesa, mesmo que
indiretamente.
Muitas das idéias apresentadas foram criadas a partir de jogos e brincadeiras
infantis ou adaptadas de dinâmicas utilizadas no ensino da língua portuguesa
para crianças ouvintes e outras ainda foram criadas especificamente para as
crianças surdas. No entanto, sempre tivemos a preocupação de contextualizar
todo o processo na perspectiva do ensino de segunda língua. Assim, as
atividades propostas estão planejadas considerando o contexto bilíngüe da
criança surda.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
11
As atividades podem ser utilizadas desde o início do processso de aquisição
da leitura e escrita, ou seja, com aquelas crianças que ainda não tiveram
nenhum contato com o português, até o final das séries iniciais, em que a
criança já se encontra alfabetizada. A diferença vai estar no nível de profundidade
trabalhada. Assim, sempre daremos algumas dicas dizendo o que seria
mais adequado para as crianças no início e durante o processo de alfabetização.
No capítulo 3, apresentamos alguns recursos didáticos que podem ser
explorados de diferentes maneiras para o ensino da língua portuguesa e demais
áreas de conhecimento.
Trazemos este livro pensando no professor dentro da sala de aula. O objetivo
é de que as atividades propostas sirvam de referência. Assim, a partir delas,
os próprios professores podem criar a sua versão de acordo com a sua realidade.
Ronice Müller de Quadros
Magali L. P. Schmiedt
Apresentação
12
13
Capítulo 1
As línguas no contexto da educação de surdos
1.1 Introdução
As línguas expressam a capacidade específica dos seres humanos para a
linguagem, expressam as culturas, os valores e os padrões sociais de um determinado
grupo social. Os surdos brasileiros usam a língua de sinais brasileira, uma
língua visual-espacial que apresenta todas as propriedades específicas das línguas
humanas. É uma língua utilizada nos espaços criados pelos próprios surdos,
como por exemplo, nas associações, nos pontos de encontros espalhados pelas
grandes cidades, nos seus lares e nas escolas. Sim, também nas escolas. Este é o
contexto do qual se ocupará este livro, as línguas na escola em que a criança
surda está inserida.
O contexto bilíngüe da criança surda configura-se diante da co-existência
da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa. No cenário nacional,
não basta simplesmente decidir se uma ou outra língua passará a fazer ou não
parte do programa escolar, mas sim tornar possível a co-existência dessas
línguas reconhecendo-as de fato atendando-se para as diferentes funções que
apresentam no dia-a-dia da pessoa surda que se está formando.
14
Parte-se de pressupostos básicos que não serão discutidos em mais detalhes
no presente livro, uma vez que se dispõe de razoável literatura que aborda
tais aspectos (por exemplo, Ferreira-Brito, 1993; Perlin, 1998, 2000; Quadros,
1997; Quadros e Karnopp, 2004; Skliar, 1997a, 1997b; Souza, 1998). Apresenta-
se a seguir de forma sintetizada tais pressupostos, simplesmente no sentido
de situar o leitor a respeito do lugar do qual se está partindo.
􀁺Estudos Surdos – Um novo campo teórico que prima pela aproximação
com o conhecimento e com os discursos sobre a surdez e sobre o mundo
surdo (Skliar, 1998). A narrativa da inclusão no campo dos estudos
culturais ou estudos surdos vai assumir a narrativa dos surdos. Através
dos relatos, ela vai captar as formas de sofrimento e manifestações de
resistência diante da inclusão que refletem a história vivida pelos surdos
em épocas que não se respeitava o direito lingüístico, o direito ao
uso e ensino de libras. Os estudos surdos aproximando-se dos estudos
culturais vão traduzir estes espaços de resistência e buscar traduzir que
aí sobrevive um grupo resgatando sua cultura. Nesse sentido, vale destacar
que a diferença se reconhece por meio de processos de tradução.
O ser é interpretado como diferente (ou como deficiente) dependendo
da posição ou do lugar que ocupa quem define essa diferença e da posição
ou do lugar que ocupa aquele que está sendo definido (Perlin, 2000).
􀁺Identidades/culturas surdas – Entende-se culturas surdas como identidades
culturais de grupos de surdos que se definem enquanto grupos
diferentes de outros grupos. “Identidade” é entendida aqui no sentido
explicitado por Silva (2000:69): como o conjunto de características
que distinguem os diferentes grupos sociais e culturais entre si. No campo
dos estudos culturais, a identidade cultural só pode ser entendida como
um processo social discursivo. Como diz Perlin (1998:54), os surdos são
surdos em relação à experiência visual e longe da experiência auditiva.
Essas culturas são multifacetadas, mas apresentam características que
são específicas em relação às experiências surdas, elas são visuais, elas
traduzem-se de forma visual, traduzem-se por meio da língua de sinais.
As formas de organizar o pensamento e a linguagem transcendem as
Idéias para ensinar português para alunos surdos
15
formas ouvintes. Elas são de outra ordem, uma ordem com base visual
e por isso têm características que podem ser ininteligíveis aos ouvintes.
Elas se manifestam mediante a coletividade que se constitui a partir
dos próprios surdos.
􀁺Língua e linguagem – Lyons (1987) define linguagem como um sistema
de comunicação natural ou artificial, humano ou não. Nesse sentido,
linguagem é qualquer forma utilizada com algum tipo de intenção comunicativa
incluindo a própria língua. No entanto, vários estudos utilizam
o termo “linguagem” num sentido mais restrito (Chomsky, 1986;
1995): o conhecimento que a pessoa tem que a torna capaz de expressar-
se através de uma língua, isto é, um sistema lingüístico com determinadas
regras altamente recursivo, pois permite a produção de infinitas
frases de forma altamente criativa. A língua, portanto, é tratada
enquanto sistema. Obviamente que estas definições são de ordem
essencialmente lingüísticas não captando a riqueza das interações sociais
que transformam e determinam a expressão lingüística. Assim,
língua e linguagem podem ser compreendidos em dois diferentes níveis:
(1) o nível biológico, enquanto parte da faculdade da linguagem humana
e, (2) o nível social ao interferir na expressão humana final. No
primeiro nível, discutem-se questões essenciais, como a aquisição da
linguagem. Já no segundo nível, discutem-se aspectos relacionados com
as representações discursivas e sociais permeadas por representações
culturais. A questão do bilingüismo pode ser discutida nesses dois níveis
de linguagem. Aqui deter-se-á a discutir e analisar esse aspecto no
contexto do segundo.
􀁺Língua de sinais brasileira – Língua que é o meio e o fim da interação
social, cultural e científica da comunidade surda brasileira, é uma
língua visual-espacial.
As línguas de sinais são consideradas línguas
naturais e, conseqüentemente, compartilham uma
série de características que lhes atribui caráter
As línguas no contexto da educação de surdos
16
específico e as distingue dos demais sistemas de
comunicação, por exemplo, produtividade ilimitada
(no sentido de que permitem a produção de um
número ilimitado de novas mensagens sobre um
número ilimitado de novos temas); criatividade (no
sentido de serem independentes de estímulo);
multiplicidade de funções (função comunicativa,
social e cognitiva – no sentido de expressarem o
pensamento); arbitrariedade da ligação entre
significante e significado, e entre signo e referente);
caráter necessário dessa ligação; e articulação desses
elementos em dois planos – o do conteúdo e o da
expressão. As línguas de sinais são, portanto,
consideradas pela lingüística como línguas naturais
ou como um sistema lingüístico legítimo, e não
como um problema do surdo ou como uma patologia
da linguagem. Stokoe, em 1960, percebeu e
comprovou que a língua de sinais atendia a todos
os critérios lingüísticos de uma língua genuína, no
léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma
quantidade infinita de sentenças (Quadros e
Karnopp, 2004: 30).
􀁺Políticas lingüísticas – Ações consideradas imprescindíveis para que se
reconheça, de fato, a língua brasileira de sinais enquanto língua nacional.
A partir delas, criam-se formas de cultivar a língua brasileira de
sinais, de disseminá-la e de preservá-la. As línguas de sinais de vários
países foram preservadas e passadas de geração em geração nas associações
de surdos e famílias de surdos, são línguas que passaram de “mão
em mão”, sendo vistas e produzidas de um para o outro. No Brasil, as
associações de surdos sempre mantiveram intercâmbios possibilitando
contatos entre surdos do país inteiro possibilitando a existência da língua
brasileira de sinais com suas respectivas variações lingüísticas.
As políticas lingüísticas que se ocupam das línguas de sinais precisam
Idéias para ensinar português para alunos surdos
17
considerar essas formas de apropriação e cultivo dessas línguas.
A tradução das políticas lingüísticas no âmbito educacional é uma das
formas de cultivo a língua brasileira de sinais enquanto língua nacional.
Em nosso país, uma política lingüística para a língua brasileira de
sinais começa a ser instaurada por meio legal. A lei 10.436 de 2002
reconhece o estatuto lingüístico da língua de sinais e, ao mesmo tempo
assinala que esta não pode substituir o português. A recomendação
atual do MEC/SEESP é de que, em função da língua portuguesa ser,
pela Constituição Federal, a língua oficial do Brasil, portanto língua
cartorial em que se registram os compromissos, os bens, a identificação
das pessoas e o próprio ensino, determina-se o uso dessa língua
obrigatório nas relações sociais, culturais, econômicas (mercado nacional),
jurídicas e nas instituições de ensino. Nessa perspectiva, o ensino
de língua portuguesa, como segunda língua para surdos, baseia-se no
fato de que esses são cidadãos brasileiros, têm o direito de utilizar e
aprender esta língua oficial que é tão importante para o exercício de
sua cidadania. O decreto 5626 de 2005 assinala que a educação de
surdos no Brasil deve ser bilíngüe, garantindo o acesso a educação por
meio da língua de sinais e o ensino da língua portuguesa escrita como
segunda língua.
􀁺Letramento é o estado daquele que não só sabe ler e escrever, mas que
também faz uso competente e freqüente da leitura e da escrita, e que,
ao tornar-se letrado, muda seu lugar social, seu modo de viver na sociedade,
sua inserção na cultura (Soares, 1998:36-37). Letramento nas
crianças surdas enquanto processo faz sentido se significado por meio
da língua de sinais brasileira, a língua usada na escola para aquisição
das línguas, para aprender por meio dessa língua e para aprender sobre
as línguas. A língua portuguesa, portanto, será a segunda língua da
criança surda sendo significada pela criança na sua forma escrita com
as suas funções sociais representadas no contexto brasileiro. Nessa
perspectiva, caracteriza-se aqui o contexto bilíngüe da criança surda.
As línguas no contexto da educação de surdos
18
As línguas envolvidas no cotidiano das crianças surdas, ou seja, a língua
de sinais brasileira e o português no contexto mais típico no Brasil, fazem parte
de um contexto educacional e da vida dos surdos fora da escola levantadas1. As
representações que as línguas desempenham na escola e na vida dos surdos
passam a ser refletidas dentro de uma perspectiva surda. A proposta deste livro,
será abordar a educação bilíngüe da criança surda em que a língua de sinais é a
língua de instrução e a língua portuguesa escrita é a sua segunda língua, buscando
ter em mente essa perspectiva surda. Neste primeiro capítulo, objetiva-se
tratar disso considerando aspectos mais teóricos e, no próximo capítulo, estarse-
á apresentando propostas que viabilizam uma educação bilíngüe considerando
o contexto da criança surda.
1.2 Educação bilíngüe no contexto do aluno surdo
1.2.1 O que é afinal educação bilíngüe
Educação bilíngüe envolve, pelo menos, duas línguas no contexto educacional.
As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngüe a uma
criança em uma escola dependem de decisões político-pedagógicas. Ao optarse
em oferecer uma educação bilíngüe, a escola está assumindo uma política
lingüística em que duas línguas passarão a co-existir no espaço escolar, além
disso, também será definido qual será a primeira língua e qual será a segunda
língua, bem como as funções que cada língua irá representar no ambiente escolar.
Pedagogicamente, a escola vai pensar em como estas línguas estarão
acessíveis às crianças, além de desenvolver as demais atividades escolares.
As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou serem objetos de
estudo em horários específicos dependendo da proposta da escola. Isso vai
depender de “como”, “onde”, “quando” e “de que forma” as crianças utilizam as
1 Não se inclui aqui as línguas estrangeiras que fazem parte dos currículos escolares. No entanto, são
línguas que também passam a fazer parte do processo educacional dos surdos e que precisam ser consideradas
outras segundas línguas a serem adquiridas. Quanto ao inglês e/ou espanhol, o ensino, provavelmente,
será constituído com base na leitura e escrita. Outra alternativa que poderia ser considerada seria a inclusão
da língua de sinais americana no currículo das escolas bilíngües para surdos, uma vez que essa língua é
reconhecida como língua franca no meio acadêmico.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
19
línguas na escola. Esse fator, provavelmente, será influenciado pelas funções
que as línguas desempenham fora da escola.
No caso do aluno surdo, a educação bilíngüe vai apresentar diferentes
contextos dependendo das ações de cada munícipio e de cada estado brasileiro.
Em alguns estados, há escolas bilíngües para surdos em que a língua de
instrução é a língua de sinais e a língua portuguesa é ensinada como 2ª língua.
Em outros estados, Libras é língua de instrução e o português é ensinado
como segunda língua nas salas de aula das turmas das séries iniciais do ensino
fundamental. Nas demais séries, a língua portuguesa é a língua de instrução,
mas há a presença de intérpretes de língua de sinais nas salas de aula e o ensino
de língua portuguesa, como segunda língua para os surdos, realiza-se na sala de
recursos.
Ainda há estados em que os serviços de intérprete de língua de sinais
estão presentes desde o início da escolarização. Nesse contexto, nas séries iniciais,
os intérpretes acabam assumindo a função de professores, utilizando a
língua de sinais como língua de instrução.
Há, ainda, estados em que professores desconhecem libras e a escola não
tem estrutura ou recursos humanos para garantir aos alunos surdos o direito à
educação, à comunicação e à informação.
Independentemente do contexto de cada estado, a educação bilíngüe
depende da presença de professores bilíngües. Assim, pensar em ensinar uma
segunda língua, pressupõe a existência de uma primeira língua. O professor que
assumir esta tarefa estará embuído da necessidade de aprender a língua brasileira
de sinais.
1.2.2 Aquisição das línguas e a criança surda
Quase que em paralelo com os estudos das línguas de sinais, iniciaram-se
as pesquisas sobre o processo de aquisição da linguagem em crianças surdas
filhas de pais surdos (Meier, 1980; Loew, 1984; Lillo-Martin, 1986; Petitto, 1987).
Essas crianças apresentam o privilégio de terem acesso a uma língua de sinais
em iguais condições ao acesso que as crianças ouvintes têm a uma língua oral-
As línguas no contexto da educação de surdos
20
auditiva2. No Brasil, a língua de sinais começou a ser investigada na década de
80 (Ferreira-Brito, 1986) e a aquisição dessa língua, nos anos 90 (Karnopp,
1994; Quadros, 1995)3. Esses estudos concluíram que o processo das crianças
surdas adquirindo língua de sinais ocorre em período análogo à aquisição da
linguagem em crianças adquirindo uma língua oral-auditiva. O fato do processo
de aquisição da linguagem ser concretizado por meio de línguas visuais-espaciais,
exige uma mudança nas formas como essa questão vem sendo tratada na
educação de surdos. As crianças com acesso a língua de sinais desde muito
cedo, desfrutam da possibilidade de adentrar o mundo da linguagem com todas
as suas nuanças.
A língua de sinais vai ser adquirida por crianças surdas que tiverem a experiência
de interagir com usuários de língua de sinais. Se isso acontecer, por
volta dos dois anos de idade, as crianças estarão produzindo sinais usando um
número restrito de configurações de mão (sugere-se que tal número corresponda
a sete configurações de mão), bem como simples combinações de sinais expressando
fatos relacionados com o interesse imediato, com o “aqui” e o “agora”.
Configurações de mãos formam um conjunto de
unidades fonológicas mínimas das línguas de sinais
(poder-se-ia estabelecer uma relação com as
unidades sonoras das línguas faladas).
As crianças nesta fase começam a marcar sentenças interrogativas com
expressões faciais concomitantes com o uso de sinais (palavras) para expressar
sentenças interrogativas (QUEM, O QUE e ONDE). Nesse período, também é
verificado o início do uso da negação não manual através do movimento da
cabeça para negar, bem como o uso de marcação não manual para confirmar
expressões comuns na produção do adulto.
2 Privilégio porque representam apenas 5% das crianças surdas, ou seja, 95% das crianças surdas são filhas
de pais ouvintes e que, portanto, na maioria dos casos, não dominam uma língua de sinais.
3 Para mais detalhes sobre a aquisição da linguagem por crianças surdas através da ASL e da LSB ver
Karnopp, 1994; Quadros, 1995, 1997.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
21
As expressões faciais são marcas não-manuais que
podem apresentar funções gramaticais tornandose
obrigatórias. Nesses casos, menciono como
exemplos, as expressões faciais associadas às
interrogativas, às construções com foco, às
construções relativas e condicionais (para mais
detalhes, ver Quadros, 1999).
Também se observa que as crianças começam a introduzir classificadores
nos seus vocabulários.
“Classificadores” são sinais que utilizam um
conjunto específico de configurações de mãos para
representar objetos incorporando ações. Tais
classificadores são gerais e independem dos sinais
que identificam tais objetos. É um recurso bastante
produtivo que faz parte das línguas de sinais. Para a
descrição de alguns classificadores na língua de
sinais brasileira ver Ferreira-Brito (1995).
Por volta dos três anos de idade, as crianças tentam usar configurações
mais complexas para a produção de sinais, mas freqüentemente tais tentativas
acabam sendo expressas através de configurações de mãos mais simples (processos
de substituição). Os movimentos característicos dos sinais continuam
sendo simplificados, embora já se observe o uso da direção dos movimentos
com êxito em alguns contextos. Classificadores são usados para expressar formas
de objetos, bem como o movimento e trajetórias percorridos por tais objetos.
Aspecto começa a ser incorporado aos sinais para expressar diferenças entre
ações (por exemplo, CORRER devagar, CORRER rápido). A criança começa
a estender as marcas de negação sobre sentenças assim como os adultos fazem,
inclusive omitindo o item lexical de negação. As crianças, também, já utilizam
estruturas interrogativas de razão (POR QUE). Nesse período, as crianças
começam a contar estórias que não necessariamente estejam relacionadas aos
As línguas no contexto da educação de surdos
22
fatos do contexto imediato. Elas falam de algum fato ocorrido em casa, sobre o
bichinho de estimação, sobre o brinquedo que ganhou, etc. No entanto, as
vezes não fica claro o estabelecimento dos referentes no espaço, o que dificulta
o entendimento das estórias.
Por volta dos quatro anos de idade, as crianças já apresentam condições
de produzir configurações de mãos bem mais complexas, bem como o uso do
espaço para expressar relações entre os argumentos, ou seja, as crianças exploram
os movimentos incorporados aos sinais de forma estruturada. A partir desse
período, elas começam a combinar unidades de significado menores para formar
novas palavras de forma consistente. Nesse período, começam a ser observadas
a produção de sentenças mais complexas incluindo topicalizações. As
expressões faciais são usadas de acordo com a estrutura produzida, isto é, as
produções não manuais das interrogativas, das topicalizações e negações são
produzidas corretamente. As crianças ainda não conseguem conservar os pontos
estabelecidos no espaço quando contam suas estórias, apesar de já serem
observadas algumas tentativas com sucesso. Aos poucos, torna-se mais claro o
uso da direção dos olhos para concordância com os argumentos, bem como o
jogo de papéis desempenhado através da posição do corpo explorados para o
relato de estórias.
Na verdade, nas análises da produção das crianças adquirindo a língua de
sinais brasileira foi observado que a direção dos olhos é usada consistentemente
por volta dos 2 anos de idade. O uso da concordância verbal através do olhar é
uma das informações que garante a compreensão do discurso da criança durante
este período tão precoce4. O contexto em que esse processo de aquisição
acontece é aquele em que as crianças têm a chance de encontrar o outro surdo,
ou seja, além de ver os sinais, ela precisará ter escutas em sinais (Souza, 2000).
A escola torna-se, portanto, um espaço lingüístico fundamental, pois normalmente
é o primeiro espaço que a criança surda entra em contato com a
língua brasileira de sinais. Por meio da língua de sinais, a criança vai adquirir a
4 Quadros, Lillo-Martin e Mathur (2001) verificaram que crianças surdas adquirindo língua de sinais
manifestam o uso de concordância verbal muito mais cedo do que havia sido reportado até o presente.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
23
linguagem. Isso significa que ela estará concebendo um mundo novo usando
uma língua que é percebida e significada ao longo do seu processo. Todo esse
processo possibilita a signficação por meio da escrita que pode ser na própria
língua de sinais, bem como, no português. Como diz Karnopp (2002), as pessoas
não constroem significados em vácuo.
O português ainda é a língua significada por meio da escrita nos espaços
educacionais que se apresentam a criança surda. A sua aquisição dependerá de
sua representação enquanto língua com funções relacionadas ao acesso às informações
e comunicação entre seus pares por meio da escrita. Entre os surdos
fluentes em português, o uso da escrita faz parte do seu cotidiano por meio de
diferentes tipos de produção textual, em especial, destaca-se a comunicação
através do celular, de chats e e-mails.
No entanto, atualmente a aquisição do português escrito por crianças surdas
ainda é baseada no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o
português falado. A criança surda é colocada em contato com a escrita do
português para ser alfabetizada em português seguindo os mesmos passos e materiais
utilizados nas escolas com as crianças falantes de português. Várias tentativas
de alfabetizar a criança surda por meio do português já foram realizadas,
desde a utilização de métodos artificiais de estruturação de linguagem até o uso
do português sinalizado5.
No Brasil, os métodos artificiais de estruturação de
linguagem mais difundidos foram a Chave de
Fitzgerald e o de Perdoncini. Português sinalizado é
um sistema artificial adotado por escolas especiais
para surdos. Tal sistema toma sinais da língua de
sinais e joga-os na estrutura do português. Há vários
problemas com esse sistema no processo
educacional de surdos, pois além de desconsiderar
a complexidade lingüística da língua de sinais
5 Para mais detalhes sobre a produção escrita do português de alunos surdos ver Fernandes
(2003) e Göes (1996).
As línguas no contexto da educação de surdos
24
brasileira, é utilizado como um meio de ensino do
português.
A criança surda pode ter acesso a representação gráfica da língua portuguesa,
processo psicolingüístico da alfabetização e à explicitação e construção
das referências culturais da comunidade letrada. A tarefa de ensino da língua
portuguesa tornar-se-á possível, se o processo for de alfabetização de segunda
língua, sendo a língua de sinais reconhecida e efetivamente a primeira língua.
Nesse processo, há vários momentos em que se faz necessária a análise
implícita e explícita das diferenças e semelhanças entre a língua de sinais brasileira
e o português. Nesse sentido, há processos em que ocorre a tradução dos
conhecimentos adquiridos na língua de sinais, dos conceitos, dos pensamentos
e das idéias para o português.
Ao fazer a análise explícita entre as duas línguas,
estamos utilizando a lingüística contrastiva, ou seja,
estamos comparando as semelhanças e diferenças
entre as línguas em seus diferentes níveis de análise.
Por exemplo, na língua portuguesa temos um
conjunto de preposições que estabelecem algum tipo
de relação entre o verbo e o resto da oração. Na
língua de sinais, esta relação é estabelecida pelo uso
do espaço incorporado ao verbo ou da indicação
(apontação).
O ensino do português pressupõe a aquisição da língua de sinais brasileira
– “a” língua da criança surda. A língua de sinais também apresenta um papel
fundamental no processo de ensino-aprendizagem do português. A idéia não é
simplesmente uma transferência de conhecimentos da primeira língua para a
segunda língua, mas sim um processo paralelo de aquisição e aprendizagem em
que cada língua apresenta seus papéis e valores sociais representados.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
25
1.2.3 A libras e a sua importância no processo
de alfabetização em língua portuguesa
Considerando o ensino da língua portuguesa escrita para crianças surdas,
há dois recursos muito importantes a serem usados em sala de aula: o relato de
estórias e a produção de literatura infantil em sinais6. O relato de estórias inclui
a produção espontânea das crianças e a do professor, bem como, a produção de
estórias existentes; portanto, de literatura infantil.
A comunidade surda tem como característica a produção de estórias espontâneas,
bem como de contos e piadas que passam de geração em geração
relatadas por contadores de estórias em encontros informais, normalmente, em
associações de surdos. Infelizmente, nunca houve preocupação de registrar tais
contos. Pensando em alfabetização, tal material é fundamental para esse processo
se estabelecer, pois aprender a ler os sinais, dará subsídios às crianças para
aprender a ler as palavras escritas na língua portuguesa.
A produção de contadores de estórias naturais, de estórias espontâneas e
de contos que passam de geração em geração são exemplos de literatura em
sinais que precisam fazer parte do processo de alfabetização de crianças surdas.
A produção em sinais artistíca não obteve a atenção merecida na educação de
surdos, uma vez que a própria língua de sinais não é a língua usada nas salas de
aula pelos professores. Desta forma, estão se reproduzindo iletrados em sinais.
A língua brasileira de sinais é “a” primeira língua e merece receber esse tratamento.
Sendo assim, recuperar a produção literária da comunidade surda é um
aspecto emergente para tornar eficaz o processo de alfabetização. Literatura em
sinais é essencial para tal processo. Os bancos escolares devem se preocupar
com tal produção, bem como incentivar seu desenvolvimento e registro. O que
os alunos produzem hoje espontaneamente, pode se tranformar em fonte de
inspiração literária dos alunos de amanhã. O que os professores relatam hoje,
podem ser aperfeiçoado no dia de amanhã.
6 Parte-se do pressuposto que as crianças estejam tendo acesso a língua de sinais brasileira.
As línguas no contexto da educação de surdos
26
Os alunos surdos precisam tornar-se leitores na
língua de sinais para se tornarem leitores na língua
portuguesa.
A língua de sinais é uma língua espacial-visual e existem muitas formas
criativas de explora-lá. Configurações de mão, movimentos, expressões faciais
gramaticais, localizações, movimentos do corpo, espaço de sinalização, classificadores
são alguns dos recursos discursivos que tal língua oferece para serem
explorados durante o desenvolvimento da criança surda e que devem ser explorados
para um processo de alfabetização com êxito.
Algumas investigações realizadas em escolas bilíngües americanas têm
evidenciado a importância de explorar tais aspectos observando o nível de desenvolvimento
da criança. Os relatos de estórias e a produção literária, bem
como a interação espontânea da criança com outras crianças e adultos por meio
da língua de sinais devem incluir os aspectos que fazem parte desse sistema
lingüístico. A seguir, estão listados alguns dos aspectos que precisam ser explorados
no processo educacional:
􀁺estabelecimento do olhar
􀁺exploração das configurações de mãos
􀁺exploração dos movimentos dos sinais (movimentos internos e externos,
ou seja, movimentos do próprio sinal e movimentos de relações
gramaticais no espaço)
􀁺utilização de sinais com uma mão, duas mãos com movimentos simétricos,
duas mãos com movimentos não simétricos, duas mãos com diferentes
configurações de mãos
􀁺uso de expressões não manuais gramaticalizadas (interrogativas, topicalização,
focus e negação)
􀁺exploração das diferentes funções do apontar
􀁺utilização de classificadores com configurações de mãos apropriadas (incluem
todas as relações descritivas e preposicionais estabelecidas através
de classificadores, bem como, as formas de objetos, pessoas e ações e
Idéias para ensinar português para alunos surdos
27
relações entre eles, tais como, ao lado de, em cima de, contra, em baixo
de, em, dentro de, fora de, atras de, em frente de, etc.)
􀁺exploração das mudanças de perspectivas na produção de sinais
􀁺exploração do alfabeto manual
􀁺estabelecimento de relações temporais através de marcação de tempo e
de advérbios temporais (futuro, passado, no presente, ontem, semana
passada, mês passado, ano passado, antes, hoje, agora, depois, amanhã,
na semana que vem, no próximo mês, etc.)
􀁺exploração da orientação da mão
􀁺especificação do tipo de ação, duração, intensidade e repetição (adjetivação,
aspecto e marcação de plural)
􀁺jogos de perguntas e respostas observando o uso dos itens lexicais e
expressões não manuais correspondentes
􀁺utilização de “feedback” (sinais manuais e não-manuais específicos de
confirmação e negação, tais como, o sinal CERTO-CERTO, o sinal
NÃO, os movimentos de cabeça afirmando ou negando)
􀁺exploração de relações gramaticais mais complexas (relações de comparação,
tais como, isto e aquilo, isto ou aquilo, este melhor do que
este, aquele melhor do que este, este igual àquele, este com aquele;
relações de condição, tais como, se isto então aquilo; relações de simultaneadade,
por exemplo, enquanto isto acontece, aquilo está acontecendo;
relações de subordinação, como por exemplo, o fulano pensa
que esta fazendo tal coisa; aquele que tem isso, está fazendo aquilo)
􀁺estabelecimento de referentes presentes e não presentes no discurso,
bem como, o uso de pronominais para retomada de tais referentes de
forma consistente
􀁺exploração da produção artística em sinais usando todos os recursos
sintáticos, morfológicos, fonológicos e semânticos próprios da LSB (tais
recursos incluem, por exemplo os aspectos mencionados até então).
A proposta é de tornar rica e lúdica a exploração de tais aspectos da língua
de sinais que tornam tal língua um sistema lingüístico complexo. As crianças
As línguas no contexto da educação de surdos
28
precisam dominar tais relações para explorar toda a capacidade criativa que
pode ser expressa por meio da sua língua e tornar possível o amadurecimento da
capacidade lógica cognitiva para aprender uma segunda língua. Através da
língua, as crianças discutem e pensam sobre o mundo. Elas estabelecem relações
e organizam o pensamento. As estórias e a literatura são meios de explorar
tais aspectos e tornar acessível à criança todos os recursos possíveis de serem
explorados.
As relações cognitivas que são fundamentais para o desenvolvimento
escolar estão diretamente relacionadas à capacidade da criança em organizar
suas idéias e pensamentos por meio de uma língua na interação com os demais
colegas e adultos. O processo de alfabetização vai sendo delineado com base
neste processo de descoberta da própria língua e de relações expressadas por
meio da língua.
A riqueza de informação se torna fundamental. A interação passa a
apresentar qualidade e quantidade que tornam o processo educacional rico e
complexo. A alfabetização passa, então, a ter valor real para a criança.
Algumas formas de produção artísticas em língua de sinais podem ser
incentivadas para a utilização de todos os recursos, tais como:
􀁺produção de estórias utilizando configurações de mãos específicas, por
exemplo, as configurações de mãos mais comuns utilizadas na língua;
as configurações de mãos do alfabeto; as configurações de mãos dos
números
􀁺produção de estórias na primeira pessoa
􀁺produção de estórias sobre pessoas surdas
􀁺produção de estórias sobre pessoas ouvintes
O processo de alfabetização continua por meio do registro das produções
das crianças. As formas de registros iniciais são essencialmente visuais e precisam
refletir a complexidade da língua de sinais. Explorar a produção de vídeos
de produções literárias de adultos, bem como das próprias produções das
crianças, é uma das formas de garantir um registro da produção em sinais com
qualidade. A filmagem de adultos produzindo estórias, bem como dos próprios
Idéias para ensinar português para alunos surdos
29
alunos são instrumentos valiosos no processo de reflexão sobre a língua, além, é
claro, de serem intrumentos que as crianças curtem. No entanto, uma forma
escrita da língua de sinais torna-se emergente para a continuidade do processo
de alfabetização. O sistema escrito de sinais expressa as configurações de mãos,
os movimentos, as direções, a orientação das mãos, as expressões faciais
associados ao sinais, bem como relações gramaticais que são impossíveis de
serem captados através de sistemas de escrita alfabéticos. Tal sistema tende a
sistematizar a língua de sinais, assim como qualquer outro sistema de escrita,
o que faz parte do processo.
O sistema escrito de sinais é uma porta que se abre no processo de alfabetização
de crianças surdas que dominam a língua de sinais utilizada no país. Este
sistema envolve a composição das unidades mínimas de significado da língua
compondo estruturas em forma de texto.
A criança surda que está passando por um processo de alfabetização imersa
nas relações cognitivas estabelecidas por meio da língua de sinais para organização
do pensamento, terá mais elementos para passar a registrar as relações
de significação que estabelece com o mundo. Diante da experiência com o sistema
de escrita que se relaciona com a língua em uso, a criança passa a criar hipóteses
e a se alfabetizar. Experiência com o sistema de escrita significa ler esta escrita.
Leitura é uma das chaves do processo de alfabetização. Ler sinais é fundamental
para que o processo se constitua. Obviamente que este processo de leitura
deve estar imerso em objectivos pedagógicos claros no desenvolvimento das
atividades. Estes são alguns dos objetivos a serem trabalhados pelo professor
(em sinais):
􀁺desenvolver o uso de estratégias específicas para resolução de problemas
􀁺exercitar o uso de jogos de inferência
􀁺trabalhar com associações
􀁺desenvolver as habilidades de discriminação visual
􀁺explorar a comunicação espontânea
􀁺ampliar constantemente vocabulário
As línguas no contexto da educação de surdos
30
􀁺oferecer constantemente literatura impressa na escrita em sinais
􀁺proporcionar atividades para envolver a criança no processo de alfabetização
como autora do próprio processo
A escrita alfabética não capta as relações de significação da língua de
sinais. Na verdade, ela vai expressar significados que serão organizados pela
criança de outra forma. Considera-se importantíssimo a criança surda interagir
com a escrita alfabética para o seu processo de alfabetização em português acontecer
de forma eficiente. No entanto, é preciso alertar aqui que esse processo
ocorreria de forma mais eficaz se a criança fosse alfabetizada na sua própria
língua (Cummins, 2000).
A realidade em nosso país não é essa, ainda a criança surda brasileira deve
“pular” o rio de um lado para o outro sem ter uma ponte. Assim, a criança vai
ser alfabetizada na língua portuguesa sem ter sido “alfabetizada” na língua
de sinais.
Para diminuir os impactos deste contexto, sugere-se investir na leitura da
própria língua de sinais. Ler os sinais vai dar subsídios lingüísticos e cognitivos
para ler a palavra escrita em português. As oportunidades que as crianças têm
de expressar suas idéias, pensamentos e hipóteses sobre suas experiências com o
mundo são fundamentais para o processo de aquisição da leitura e escrita da
língua portuguesa. Pensando no contexto das crianças surdas, os professores
devem ser especialistas na língua de sinais, além, é claro, de terem habilidades
de explorar a capacidade das crianças em relatar suas experiências. Este é um
dos meios mais efetivos para o desenvolvimento da consciência sobre a língua.
Por exemplo, as crianças não precisam dizer que uma sentença com oração
subordinada é uma sentença complexa de tal ou tal tipo, mas elas precisam ter
milhares de oportunidades de usar tais sentenças, pois esse uso servirá de base
para o reconhecimento da leitura e elaboração da escrita com significado. São
as oportunidades intensas de expressão que sustentam o conhecimento gramatical
da língua que dará suporte para o processo da leitura e escrita, em especial,
da alfabetização na segunda língua, o português, considerando o contexto escolar
do aluno surdo.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
31
Quando a criança já registra suas idéias, estórias e reflexões por meio de
textos escritos, suas produções servem de base para reflexão sobre as descobertas
do mundo e da própria língua. O professor precisa explorar ao máximo tais
descobertas como instrumento de interações sociais e culturais entre colegas,
turmas e outras pessoas envolvidas com a criança.
O processo mais consciente da aquisição da leitura e escrita, isto é, a etapa
mais meta-lingüística deste processo, é muito importante para o aluno surdo.
Falar sobre a língua por meio da própria língua passa a ter uma representação
social e cultural para a criança que são elementos importantes do processo educacional.
Portanto, vamos conversar sobre “aprender a língua de sinais e a língua
portuguesa” usando e registrando as descobertas através destas línguas.
Aprender sobre a língua é uma conseqüência natural do processo de alfabetização.
Os alunos passam a refletir sobre a língua, uma vez que textos podem
expressar melhor ou pior a mesma informação. Ler e escrever em sinais e em
português são processos complexos que envolvem uma série de tipos de competências
e experiências de vida que as crianças trazem. As competências gramatical
e comunicativa das crianças são elementos fundamentais para o desenvolvimento
da leitura e escrita. Quando o leitor é capaz de reconhecer os níveis
de interações comunicativas reais, ele passa a ter habilidades de tranpor este
conhecimento para a escrita. As crianças precisam internalizar os processos
de interação entre quem escreve e quem lê para atribuir o verdadeiro significado
à escrita.
Falar sobre os processos de interações comunicativas, sobre a língua de
sinais e sobre a língua portuguesa escrita são formas de desenvolver a conscientização
do valor das línguas e suas respectivas complexidades. Este exercício
dará subsídios para o processo de aquisição da leitura e escrita em sinais,
bem como para o desenvolvimento da leitura e escrita do português como
segunda língua.
Os textos produzidos pelos alunos em sinais e literatura geral em sinais são
fontes essencias para o desenvolvimento desse processo, pois servem de referência
para o registro escrito na língua portuguesa. Essas produções podem ser
As línguas no contexto da educação de surdos
32
arquivadas por meio de uma videoteca, pois tal recurso é fundamental para
avaliação das produções de outras pessoas, bem como das próprias produções.
Esse processo de avaliação deve ser interacional, constante e criativo. Veja que
no caso do aluno surdo, a percepção da sua produção é diferente da percepção
de uma criança que ouve e fala uma língua falada. O aluno surdo não tem a
mesma percepção do que produz e do que vê ser produzido pelo seu interlocutor.
Assim, ter a oportunidade de explorar a própria produção lendo a si próprio
é fundamental para o desenvolvimento cognitivo que sustentará o processo de
aquisição da leitura e escrita na língua portuguesa.
O ensino da língua de sinais é um processo de reflexão sobre a própria a
língua que sustenta a passagem do processo de leitura e escrita elementar para
um processo mais consciente. Esse processo dará sustentação para o ensino
da língua portuguesa que pode estar acontecendo paralelamente. Quando a
criança lida de forma mais consciente com a escrita, ela passa a ter poder sobre
ela, desenvolvendo, portanto, competência crítica sobre o processo. A criança
passa a construir e reconhecer o seu próprio processo, bem como, refletir sobre
o processo do outro.
1.2.4 Estágios de interlíngua na aprendizagem da língua portuguesa
A partir dos vários estudos sobre o estatuto de diferentes línguas de sinais e
seu processo de aquisição, muitos autores passaram a investigar o processo de
aquisição por alunos surdos de uma língua escrita que representa a modalidade
oral-auditiva (Andersson, 1994; Ahlgren, 1994; Ferreira-Brito, 1993; Berent, 1996;
Quadros, 1997; entre outros). A aquisição do sueco, do inglês, do espanhol, do
português por alunos surdos é analisada como a aquisição de uma segunda língua.
Esses educadores e pesquisadores pressupõem a aquisição da língua de sinais como
aquisição da primeira língua e propõem a aquisição da escrita da língua oralauditiva
como aquisição de uma segunda língua. Sobre a aquisição da segunda
língua por alunos surdos apresentam-se alguns aspectos fundamentais:
(a) o processamento cognitivo espacial especializado dos surdos;
(b) o potencial das relações visuais estabelecidas pelos surdos;
Idéias para ensinar português para alunos surdos
33
(c) a possibilidade de transferência da língua de sinais para o português;
(d) as diferenças nas modalidades das línguas no processo educacional;
(e) as diferenças dos papéis sociais e acadêmicos cumpridos por cada língua,
(f)as diferenças entre as relações que a comunidade surda estabelece com
a escrita tendo em vista sua cultura;
(g) um sistema de escrita alfabética diferente do sistema de escrita das
línguas de sinais;
(h) a existência do alfabeto manual que representa uma relação visual
com as letras usadas na escrita do português.
Os alunos são dependentes das habilidades da sua primeira língua, particularmente,
daquelas relacionadas ao letramento na primeira língua. Na perspectiva
do desenvolvimento cognitivo, a aquisição de uma segunda língua é similar
ao processo de aquisição da primeira língua. No entanto, deve ser considerada a
inexistência de letramento na primeira língua. Os surdos não são letrados na sua
língua quando se deparam com o português escrito. A escrita passa a ter uma
representação na língua portuguesa ao ser mediada por uma língua que haja significação.
As palavras não são ouvidas pelos surdos, eles não discutem sobre as
coisas e seus significados no português, mas isso acontece na língua de sinais.
Assim, a escrita do português é significada a partir da língua de sinais.
Existe a língua escrita da língua de sinais, um sistema não-alfabético que
representa as unidades espaciais-visuais dessa língua. No entanto, ela não é
difundida ainda. Caso o fosse, os surdos poderiam ser letrados na sua própria
língua, o que favoreceria, provavelmente, a aquisição da escrita do português.
O português enquanto segunda língua, a língua alvo, apresenta características
de aquisição observados em processos de aquisição de outras línguas, ou
seja, observa-se variação individual tanto no nível do êxito como no processo,
nas estratégias usadas pelos próprios alunos, bem como nos objetivos. Há, por
exemplo, fossilização, ou seja, estabilização de certos estágios do processo de
aquisição. Há, também, a indeterminação das intuições (em relação ao que é e
o que não é permitido na gramática da língua alvo). Além disso, pode haver
influência de fatores afetivos.
As línguas no contexto da educação de surdos
34
A segunda língua apresentará vários estágios de interlíngua, isto é, no
processo de aquisição do português, as crianças surdas apresentarão um sistema
que não mais representa a primeira língua, mas ainda não representa a língua
alvo. Apesar disso, estes estágios da interlíngua apresentam características de
um sistema lingüístico com regras próprias e vai em direção à segunda língua.
A interlíngua não é caótica e desorganizada, mas apresenta sim hipóteses e
regras que começam a delinear uma outra língua que já não é mais a primeira
língua daquele que está no processo de aquisição da segunda língua. Na produção
textual dos alunos surdos fluentes na língua de sinais, observa-se esse processo
(Brochado, 2002).
Estágios de interlíngua em crianças surdas
Brochado (2003)
INTERLÍNGUA I (IL1)
Neste estágio observamos o emprego predominante de estratégias de transferência
da língua de sinais (L1) para a escrita da língua portuguesa (L2)
desses informantes, caracterizando-se por:
􀁺predomínio de construções frasais sintéticas;
􀁺estrutura gramatical de frase muito semelhante à língua de sinais brasileira
(L1), apresentando poucas características do português (L2);
􀁺aparecimento de construções de frases na ordem SVO, mas maior
quantidade de construções tipo tópico-comentário;
􀁺predomínio de palavras de conteúdo (substantivos, adjetivos, verbos);
􀁺falta ou inadequação de elementos funcionais (artigos, preposição,
conjunção);
􀁺uso de verbos, preferencialmente, no infinitivo;
􀁺emprego raro de verbos de ligação (ser, estar, ficar), e, às vezes, incorretamente;
Idéias para ensinar português para alunos surdos
35
􀁺uso de construções de frase tipo tópico-comentário, em quantidade,
proporcionalmente maior, no estágio inicial da apropriação da L2;
􀁺falta de flexão dos nomes em gênero, número e grau;
􀁺pouca flexão verbal em pessoa, tempo e modo;
􀁺falta de marcas morfológicas;
􀁺uso de artigos, às vezes, sem adequação;
􀁺pouco emprego de preposição e/ou de forma inadequada;
􀁺pouco uso de conjunção e sem consistência;
􀁺semanticamente, ser possível estabelecer sentido para o texto.
INTERLÍNGUA II (IL2)
Neste estágio constatamos na escrita de alguns alunos uma intensa mescla
das duas línguas, em que se observa o emprego de estruturas lingüísticas da
língua de sinais brasileira e o uso indiscriminado de elementos da língua portuguesa,
na tentativa de apropriar-se da língua alvo. Emprego, muitas vezes,
desordenado de constituintes da L1 e L2, como se pode notar:
􀁺justaposição intensa de elementos da L1 e da L2;
􀁺estrutura da frase ora com características da língua de sinais brasileira,
ora com características gramaticais da frase do português;
􀁺frases e palavras justapostas confusas, não resultam em efeito de sentido
comunicativo;
􀁺emprego de verbos no infinitivo e também flexionados;
􀁺emprego de palavras de conteúdo (substantivos, adjetivos e verbos);
􀁺às vezes, emprego de verbos de ligação com correção;
􀁺emprego de elementos funcionais, predominantemente, de modo
inadequado;
􀁺emprego de artigos, algumas vezes concordando com os nomes que
acompanham;
􀁺uso de algumas preposições, nem sempre adequado;
As línguas no contexto da educação de surdos
36
􀁺uso de conjunções, quase sempre inadequado;
􀁺inserção de muitos elementos do português, numa sintaxe indefinida;
􀁺muitas vezes, não se consegue apreender o sentido do texto, parcialmente
ou totalmente,
􀁺sem o apoio do conhecimento anterior da história ou do fato narrado.
INTERLÍNGUA III (IL3)
Neste estágio, os alunos demonstram na sua escrita o emprego predominante
da gramática da língua portuguesa em todos os níveis, principalmente,
no sintático. Definindo-se pelo aparecimento de um número maior de frases na
ordem SVO e de estruturas complexas, caracterizam-se por apresentar:
􀁺estruturas frasais na ordem direta do português;
􀁺predomínio de estruturas frasais SVO;
􀁺aparecimento maior de estruturas complexas;
􀁺emprego maior de palavras funcionais (artigos, preposição, conjunção);
􀁺categorias funcionais empregadas, predominantemente, com adequação;
􀁺uso consistente de artigos definidos e, algumas vezes, do indefinido;
􀁺uso de preposições com mais acertos;
􀁺uso de algumas conjunções coordenativas aditiva (e), alternativa(ou),
adversativa (mas), além das subordinativas condicional (se), causal e explicativa
(porque), pronome relativo (que) e integrante (que);
􀁺flexão dos nomes, com consistência;
􀁺flexão verbal, com maior adequação;
􀁺marcas morfológicas de desinências nominais de gênero e de número;
􀁺desinências verbais de pessoa (1ª e 3ª pessoas), de número (1ª e 3ª
pessoas do singular e 1ª pessoa do plural) e de tempo ( presente e pretérito
perfeito), com consistência;
􀁺emprego de verbos de ligação ser, estar e ficar com maior freqüência
e correção.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
37
A seguir, conforme analisado por Brochado (2003) será apresentado trechos
de textos de alunos em cada fase de interlíngua.
Trecho de texto da fase de interlíngua I
A raposa e as uva
colhas come muito uva
colhos fugiu escuro árvore
raposa quero vontade come uva
raposa pulou não pegeu conseguiu
Segundo Brochado (2003), verifica-se que o texto apresenta frases curtas,
sem elementos gramaticais da língua portuguesa. Este texto, também reflete
dificuldades ortográficas, o uso inadequado da flexão e o uso de estrutura tópico-
comentário, além da ordenação sujeito-verbo. Segundo a autora, essas são
características de textos produzidos na fase inicial da aquisição do português.
Trecho de texto da fase de interlíngua II
Chapeuzinho Vermelho
Mãe fala chapeuzinho vermelho
A vovó muito doena [doente?]
chapeuzinho Vermelho foi vê flor muito bonita
chapeuzinho Vermelho assauto lobo.
lobo corre muito casa vovó lobo come vovó
chapeuzinho Vermelho lobo quem chapeuzinho
vermelho porque olho grande, porque nariz grande,
porque
orelha grande, porque boca grande come
chapeuzinho Vermelho.
As línguas no contexto da educação de surdos
38
O homem ovido [ouviu?] quem homem cama o lobo
dorme.
Chapeuzinho Vermelho gosta muito da vovó.
A autora observou que no nível de interlíngua II, há o uso de artigos,
preposições e expressões gramaticais, embora os mesmos sejam produzidos de
forma inadequada. Parece já haver uma consciência por parte das crianças quanto
a existência de tais elementos, mas ainda não há o conhecimento para o uso
adequado dos mesmos. A criança parece estar tentando usar os elementos gramaticais
do português. Provavelmente, nessa fase, a criança esteja fazendo hipóteses
a respeito dos elementos gramaticais da língua portuguesa e esteja testando-
as. Brochado observa, também, que já há o emprego da flexão verbal de
forma adequada, embora ainda de forma inconsistente. Nesse nível, a autora
observa que parece haver uma confusão entre o tipo de estrutura empregada na
língua de sinais e o tipo de estrutura do português escrito.
Trecho de texto da fase de interlíngua III
Chapeuzinho Vermelho
A mamãe falou:
– Chapeuzinho por favo você vai casa
da vovó.
Chapeuzinho falou
– Porque eu vou casa da vovó?
Mamãe falou
– Porque a vovó está doente entendeu.
Chapeuzinho falou
– da eu vou casa da vovó porque eu
tenho soudade da vovó eu do feliz.
A mamãe falou
– Por favor cuidado mato é perigoso.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
39
Chapeuzinho falou
– e eu sei calma você não prisisa
ficar com preocupada entendeu.
Chapeuzinho vermelho pegou
Uma cesta para dar da vovó.
Chapeuzinho vermelho
Saiu mato anda calma e pula
Chegou lobo e lobo falou
– oi todo bom chapeuzinho Vermelho
Onde você vai?
Chapeuzinho Vermelho falou
– Eu vou da casa vovó porque a
vovó está doente entendeu.
Chapeuzinho Vermelho falou
– Onde você vai?
lobo falou
– eu estou passiar do mato.
lobo falou
– você prisisa entra do lado porque
e mais perdo entendeu.
Chapeuzinho Vermelho falou
– esta bom.
e depois
lobo correu e chegou casa da vovó.
bater porta
vovó falou
– quem você?
lobo falou
– eu sou chapeuzinho Vermelho.
vovó falou
– ah pode entra casa
lobo abriu porta e comeu vovó. Lobo deiteu
da cama
As línguas no contexto da educação de surdos
40
Chegou Chapeuzinho Vermelho banteu
a porta lobo falou
– quem você. Chapeuzinho Vermelha falou
– eu sou chapeuzinho vermelho.
falou
– porque você tem orelha grende?
lobo falou
– porque eu priciso ouvir bem você
Chapeuzinho falou
– porque você tem nariz grende.
lobo falou
– porque eu prisiso ar bom.
Chapeuzinho falou
– porque você tem boca grende.
lobo falou
– porque eu vou comer você Ah.
Comeu C.V.
Brochado (2003) analisa o texto dessa criança e observa o quanto já há o
uso dos elementos gramaticais da língua portuguesa. Além disso, o texto apresenta
características de uma narrativa incluindo o discurso direto. A autora
observa as características de um texto na fase de interlíngua III e destaca que os
erros ortográficos encontrados são muito mais de ordem visual. Há também
alguns erros em relação ao uso das preposições que estão relacionados não com
sua função gramatical, mas com aspectos relacionados também a sonoridade.
1.2.5 Alfabetização em português no contexto do aluno surdo
As atividades sugeridas aos professores objetivam chegar na leitura e
escritura da língua portuguesa como segunda língua. Assim, as atividades sempre
são antecedidas pela leitura de textos em sinais.
A leitura precisa estar contextualizada. Os alunos que estão se alfabetizando
em uma segunda língua precisam ter condições de “compreender” o tex-
Idéias para ensinar português para alunos surdos
41
to. Isso significa que o professor vai precisar dar instrumentos para o seu aluno
chegar à compreensão. Provocar nos alunos o interesse pelo tema da leitura por
meio de uma discussão prévia do assunto, ou de um estímulo visual sobre o
mesmo, ou por meio de uma brincadeira ou atividade que os conduza ao tema
pode facilitar a compreensão do texto.
Há, pelo menos dois tipos de leitura, quando se discute esse processo na
aquisição de segunda língua: a leitura que apreende as informações gerais do
texto, ou seja, dá uma idéia mais geral do que o texto trata, e a leitura que
apreende informações mais específicas, isto é, adentra em detalhes do texto que
não necessariamente tenham implicações para a compreensão geral do texto.
Os dois tipos de leitura são importantes quando se está aprendendo a ler em
uma segunda língua e podem ser objetivo de leitura ao longo do processo
de aquisição.
O professor precisa preparar as atividades de leitura visando um e/ou
outro nível de acordo com as razões que levaram os alunos a terem interesse a
ler um determinado texto. Nesse sentido, a motivação para ler um texto é imprescindível.
A criança surda precisa saber por que e para que vai ler. O assunto
escolhido como temática na leitura vai variar de acordo com as atividades e
interesses dos alunos. Instigar nos alunos, durante a leitura, a curiosidade pelo
desenrolar dos fatos no texto é fundamental. No caso de histórias, por exemplo,
pode-se parar a leitura em um ponto interessante e continuá-la somente em
outro momento, deixando nos alunos a expectativa do que irá acontecer, permitindo
que opinem sobre o desfecho da mesma e comparando posteriormente
com o final escolhido pelo autor.
O professor precisa conversar na língua de sinais sobre o que a leitura
estará tratando. Isso não necessariamente implica em ler o texto em sinais, mas
sim conversar sobre o texto ou trazer o texto dentro do contexto das atividades
já em desenvolvimento na sala de aula. Além disso, muitas vezes discutir sobre
alguns elementos lingüísticos presentes no texto pode ser muito útil para o aluno
que está aprendendo a ler.
Trabalhar com palavras-chaves também pode ser muito útil para o novo
leitor. Isso não significa listar o vocabulário presente no texto, mas discutir com
As línguas no contexto da educação de surdos
42
os alunos sobre as palavras que aparecem no texto estimulando-os a buscar o
seu significado. Outra alternativa é estimular a busca no dicionário, desde que
isso não se aplique ao texto inteiro.
Algumas questões que os professores devem manter em mente quando
preparam uma atividade de leitura são as seguintes:
􀁺Qual o conhecimento que os alunos têm da temática abordada no texto?
􀁺Como esse conhecimento pode ser explorado em sala de aula antes de
ser apresentado o texto em si?
􀁺Quais as motivações dos alunos para lerem o texto?
􀁺Quais as palavras fundamentais para a compreensão do texto?
􀁺Quais os elementos lingüísticos que podem favorecer a compreensão do
texto?
Outro aspecto a ser considerado ao se propor atividades de leitura em
uma segunda língua são os tipos de textos. Conforme Quadros (1997), os textos
apresentados aos alunos surdos devem ser textos verdadeiros, ou seja, não se
simplificam os textos que existem, mas se apresentam textos adequados à faixa
etária da criança, por isso os contos e histórias infantis são muito apropriados
nas séries iniciais do ensino fundamental. Além desses tipos de textos, é possível
trabalhar com histórias em quadrinhos, textos jornalísticos, trechos de livros
didáticos e assim por diante. O mais importante é o texto fazer sentido para a
criança no contexto da sala de aula e para a sua vida.
Compreensão precede produção!
Leitura precede a escrita!
No contexto do aluno surdo, a leitura passa por diversos níveis:
1) Concreto – sinal: ler o sinal que refere coisas concretas, diretamente
relacionadas com a criança.
2) Desenho – sinal: ler o sinal associado com o desenho que pode
representar o objeto em si ou a forma da ação representada por meio
do sinal.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
43
3) Desenho – palavra escrita: ler a palavra representada por meio do desenho
relacionada com o objeto em si ou a forma da ação representado
por meio do desenho na palavra.
4) Alfabeto manual – sinal: estabelecer a relação entre o sinal e a palavra
no português soletrada por meio do alfabeto manual.
5) Alfabeto manual – palavra escrita: associar a palavra escrita com o alfabeto
manual.
6) Palavra escrita no texto: ler a palavra no texto.
Na medida que o aluno compreende o texto, ele começa a produzir textos.
Ele começa a escrever textos. A escritura é um processo que se constrói por
meio do registro das atividades realizadas na própria sala de aula e de experiências
vivenciadas pela própria criança.
A leitura e escritura de um texto deve ter um significado real para a criança.
Por exemplo, confeccionar pequenos livros com os alunos contendo histórias
criadas por eles ou ilustrar textos já trabalhados, seja um livro para cada história
ou ainda uma coletânea de histórias da turma num mesmo livro que circule
entre a turma, com direito de levá-lo para casa a fim de mostrá-lo a família,
apresenta um significado real à função de escrever. Outra possibilidade ainda
seria de agrupar os livros produzidos pelos alunos num espaço próprio da sala
como uma mini-biblioteca para que os colegas retirem os livros para ler.
Os textos produzidos também poderiam ser presenteados aos colegas ou à biblioteca
da escola, ou ainda serem expostos numa feira ou num evento especial
da escola como possibilidade de serem lidos de fato. Uma idéia mais abrangente
seria a turma ou a escola promover uma “Semana da Leitura” ou “Semana da
Comunicação” para desenvolver projetos que estimulem a leitura e produção
escrita. Outra alternativa ainda seria montar um diário de notícias ou um jornal
da turma ou da escola, que circule entre as crianças, a escola e as famílias, no
qual se explore diferentes tipos de textos baseados nos jornais da cidade (artigos,
entrevistas, cartas, propagandas, anúncios, avisos legais e editais, receitas,
humor, sinopses de filmes ou novelas,...).
As línguas no contexto da educação de surdos
44
Num estágio inicial de produção escrita o mais importante é que a criança
surda consiga expor o seu pensamento, portanto não é necessário haver, num
primeiro momento, uma preocupação exagerada com a estruturação frasal na
língua portuguesa. Isto se dará mais adiante, quando a criança já estiver mais
segura para se “arriscar” no mundo da escrita. A criança vai ler textos em português,
além dos próprios textos produzidos por ela mesma. Deve-se ter sempre
o cuidado para que estes momentos iniciais de produção não sejam frustrantes
para a criança, mas ao contrário sejam atraentes, desafiadores e que toda
produção seja valorizada, por mais simples que possa parecer, pois o objetivo
maior é levá-la a ter vontade de escrever o que pensa, reconhecer que os seus
pensamentos são importantes e que todos podem ser registrados.
A partir de agora, dar-se-ão várias sugestões aos professores para que
sejam aplicadas, adaptadas ou para que sirvam de inspiração para criar novas
atividades na sala de aula com a criança surda.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
45
Capítulo 2
Sugestões de atividades para o ensino
da língua portuguesa para surdos
2.1 Trabalhando com o “SACO DAS NOVIDADES”
Esta é uma dinâmica realizada na educação infantil de uma escola de
surdos do Rio Grande do Sul e que foi aqui adaptada para o trabalho com a
língua portuguesa.
OBJETIVOS
􀁺Estimular na criança a habilidade de expressar-se perante um grupo;
􀁺Desenvolver na criança a capacidade de expor seus pensamentos de
forma clara e organizada, situando-se no tempo e no espaço, utilizando
este recurso como apoio.
MATERIAL
􀁺1 saco de pano, com a inscrição SACO DAS NOVIDADES no centro
e o nome da criança abaixo, em cola colorida, tinta para tecido ou
bordado.
46
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
􀁺Cada criança deve possuir seu próprio Saco das Novidades que será
levado para casa toda 6ª feira;
􀁺Durante o final de semana colocará no saco um objeto ou qualquer
material que represente ou faça parte de alguma atividade realizada
neste período (seja um passeio, uma brincadeira, um lanche, um momento
em casa,...).Se não houver possibilidade de colocar uma representação
concreta, que seja então uma folha com um desenho da atividade
desenvolvida.
􀁺O Saco das Novidades deve ser trazido e explorado em sala sempre na
2ª feira. A criança mostra o objeto e conta em língua de sinais o que ele
significa, que atividade representa, onde e quando foi realizada, quem
participou dela.... Se não consegue fazê-lo espontaneamente o professor
pode,num primeiro momento, auxiliar fazendo-lhe alguns questionamentos:
“O que você trouxe aí?”, “É seu? Não? De quem é?”,
“Quando fez isto, foi no sábado ou no domingo?”, “Você gostou?”,...
􀁺Conforme o nível de aprendizagem da turma,após a atividade anterior,
pode-se:
– fazer o registro individual ou em grupo; escrito ou ilustrado;
– montar histórias em quadrinhos que podem ser trocadas entre as crianças
para que recontem a atividade do colega em língua de sinais,
pro-porcionando a troca e o desenvolvimento lingüístico;
– aproveitar algum registro para o trabalho de português;
– e tantas outras atividades que venham de encontro aos objetivos traçados
pelo professor.
Exemplo: Uma criança traz dentro do saco uma boneca de pano nova.
a) Momento de conversação e exploração do objeto em língua de sinais:
􀁺A criança pode contar como e quando a ganhou, quem a fez, onde a
ganhou, como é a boneca, o que achou de tê-la ganho, se ela tem
Idéias para ensinar português para alunos surdos
47
outras bonecas ou não,
como e onde ela brinca
com bonecas, se já escolheu
um nome para sua
boneca nova....
􀁺Após este momento as
outras crianças podem
manusear a boneca, fazer
perguntas e o professor
pode aproveitar para
explorar mais algum
detalhe.
􀁺Depois que todos tenham
mostrado e contado o
que trouxeram faz-se o
registro dos mesmos.
b) O registro pode ser em grupo, de duas formas:
􀁺Exemplo 1: A cada semana as crianças escolhem a novidade de um dos
colegas e formam o texto em conjunto.
Registro do Saco da Novidade:
Ana
Ana trouxe uma boneca de pano.
Ela ganhou esta boneca da vovó no domingo.
Foi a vovó quem a costurou.
Domingo à noite Ana colocou a boneca em sua
cama e dormiu com ela.
Ana ainda não escolheu um nome para sua boneca
nova.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
48
􀁺Exemplo 2: Monta-se um livro em conjunto, onde cada criança faz um
desenho e uma frase que resuma a sua novidade. Então se juntam todas
as folhas, cria-se uma capa e faz-se o livro do fim de semana.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
49
c) O registro pode ser individual e de acordo com as possibilidades de
cada criança.
􀁺Exemplo 1: Em forma de desenho, onde ela também escreve uma frase
sobre o mesmo.
􀁺Exemplo 2: Em forma de história em seqüência, onde a criança desenha
e as frases podem ser dadas ou não pelo professor.
Domingo eu ganhei uma boneca de pano da vovó.
Ana.
Vovó me deu
Vovó fez uma boneca. a boneca.
Domingo eu fui à casa
da vovó.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
50
􀁺Exemplo 3: Em forma de texto escrito por ela.
Minha Boneca de Pano
Eu trouxe uma boneca de pano.
Domingo eu fui à casa da vovó e ela me deu a boneca.
Vovó costurou o corpo, o cabelo e a roupa.
Eu dormi com a boneca na minha cama.
Ela ainda não tem nome.
d) Sugestões de trabalho a partir destes registros:
􀁺Trabalhar com as frases completas:
Minha Boneca de Pano
Eu trouxe uma boneca de pano.
Domingo eu fui à casa da vovó e ela me deu a boneca.
Vovó costurou o corpo, o cabelo e a roupa.
Eu dormi com a boneca na minha cama.
Ela ainda não tem nome.
– Fazer leitura e interpretação também em libras antes da escrita;
– Apresentar uma frase em libras para que seja identificada pelos alunos;
– Apresentar a frase em alfabeto manual para que a criança a apresente em libras;
– Apresentar um desenho para que a criança indique qual é a frase no texto;
– Ordenar frases: recortar todas elas , misturá-las e organizá-las novamente;
– Recortar todos os elementos das frases e brincar com eles formando novos textos;
– Fazer a leitura em libras e transcrevê-la exatamente como foi sinalizada, para
depois comparar este texto com o texto escrito na língua portuguesa.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
51
􀁺Trabalhar com os personagens dos textos ou os sujeitos das frases:
Relato: O BOM DO FERIADÃO.
Gustavo foi ao parque aquático e ele brincou muito.
Felipe chamou a família para ver os cinco gatos que nasceram. Um gato morreu.
Gustavo emprestou a bicicleta do amigo e depois brincou de autorama.
Jean brincou de carrinho com seu amigo. Ele dormiu no edifício do amigo.
– Colocar o texto num cartaz;
– Identificar todos os personagens
sinalizando-os;
– Pintar no cartaz os personagens e
lançar, em sinais, questões aos alunos como:
Quem viu os gatos/ Quem tirou fotos? Quem
brincou com amigos? ... Para alunos já
alfabetizados escrever as perguntas para que
respondam em sinais e por escrito também;
– Relacionar nome ao sinal:
– Confeccionar cartões com o sinal de
cada colega e sorteá-los entre eles. Cada um
terá que procurar no cartaz a frase
correspondente à pessoa que pegou e sinalizá-la, depois terá que copiá-la e desenhá-la.
Jean brincou de carrinho com seu amigo.
Gustavo foi ao parque aquático
e ele brincou muito
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
52
􀁺Trabalhar os verbos que aparecem nos registros:
Ana
Ana trouxe uma boneca de pano.
Ela ganhou esta boneca da vovó no domingo.
Foi a vovó quem a costurou.
Domingo à noite Ana colocou a boneca em sua cama e dormiu com ela.
– Destacar os verbos no texto;
– Trabalhar com sinais, montar jogo de memória (sinal-alfabeto manual-palavra);
– O professor faz o verbo em alfabeto manual para a criança apontá-lo no texto;
– As crianças copiam os verbos em cartões para dramatizá-los depois;
– Trocar os verbos das frases chamando a atenção da criança que mudando apenas
um elemento da frase ela pode mudar totalmente de sentido. Exemplo:
“Foi a vovó quem a costurou.”
“Foi a vovó quem a escolheu.”
“Foi a vovó quem a ganhou.”
“Foi a vovó quem a trouxe.”
Idéias para ensinar português para alunos surdos
– Trocar no texto seu nome pelo pronome “EU”;
– Trocar os personagens das frases e trabalhar com o verdadeiro e o falso, ou com
os absurdos. Ex: “Felipe chamou a família para ver os cinco gatos que nasceram. Um gato
morreu.” - “A família chamou os gatos para ver os cinco Felipe que nasceram. A família
morreu.” Mostrar a importância de colocar os elementos da frase na ordem certa, conforme
a língua portuguesa.
53
􀁺Confeccionar brinquedos em sala:
O BOM DO FERIADÃO.
Gustavo foi no parque aquático e ele brincou muito.
Felipe chamou a família para ver os cinco gatos que nasceram. Um gato morreu.
Gustavo emprestou a bicicleta do amigo e depois brincou de autorama.
Jean brincou de carrinho com seu amigo. Ele dormiu no edifício do amigo.
– Montar a maquete de um parque aquático e depois descrevê-lo;
– Confeccionar com sucata a bicicleta, os carrinhos, o autorama,...;
– Costurar roupas para bonecas e brincar de loja, explorando a escrita nos preços,
crediários, cheques, estoques ou pedidos;
– Moldar com massinha os gatinhos e explorar na escrita seu modo de vida: seu
nascimento, sua alimentação, seus hábitos,...;
– Montar uma máquina fotográfica.
􀁺Desenvolver com as crianças um projeto a partir das novidades trazidas
para a aula:
Exemplo de projeto – baseado no texto “Ana”
“Brinquedos e brincadeiras do tempo da vovó.”
– Entrevistas com os avós;
– Pesquisas sobre a história do brincar e dos brinquedos;
– Busca e empréstimo de brinquedos antigos para montar um mini-museu na sala;
– Oficinas de brinquedos oferecidas pelos avós;
– Tarde de brincadeiras com os avós;
– Festa em comemoração ao dia dos avós;
– Elaboração de um livro com o registro de todo o projeto, com direito a sessão de
autógrafos.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
54
2.2 Trabalhando com o "SACO SURPRESA"
Esta é na verdade uma variação da dinâmica anterior, onde a diferença
básica está no fato de que o professor escolhe e traz os objetos e não a criança.
Neste trabalho a ênfase é trabalhar por temáticas.
OBJETIVOS
􀁺Desenvolver na criança a capacidade de expressar sensações, sejam elas
táteis ou visuais, de forma “oral” (em língua de sinais) e escrita;
􀁺Proporcionar experiências que levem a criança à abstração, análise e
síntese, descrição, classificação e conceituação.
MATERIAL
􀁺Um saco de pano, bem maior que o saco das novidades, onde possam ser
colocados vários objetos, de formas e tamanhos diferentes, ao mesmo
tempo. O tecido não pode ser transparente!!!
􀁺Objetos escolhidos conforme o tema a ser trabalhado.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
a) O saco surpresa fica sempre na sala de aula e pode ser utilizado pelo
professor na introdução de temas. Seu uso, portanto, pode ser semanal,
quinzenal, mensal,.... ou apenas esporádico.
b) Os objetos colocados nele devem ser escolhidos pelo professor conforme
o assunto a ser desenvolvido e a ênfase que ele queira dar, de
acordo com seu planejamento. Deve-se tomar o cuidado de, sempre
que possível, ter um número de objetos equivalente ou maior que o
número de alunos para que todos tenham a oportunidade de participar
do momento de descoberta dos mesmos.
c) Esta atividade é desenvolvida em grupo, porém cada aluno, um a um,
coloca a mão no saco surpresa e pega um objeto para explorá-lo inicialmente
sem ver.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
55
d) A criança que pega o objeto deve tentar descrevê-lo somente através
da percepção tátil. Desenvolve-se aí uma conversação em língua de
sinais com todo o grupo a respeito das características do objeto: Ele é
macio? É áspero? É duro? É redondo? Tem partes móveis?Parece ser de
comer? Será que serve para brincar? É bom ou ruim de tocar?É igual ao
que o colega pegou antes? .....Ao esgotar as possibilidades de questionamentos
o objeto é mostrado a todos, feito ou ensinado o seu sinal, e
confrontado com as afirmações feitas durante a conversação. E assim
acontece até que todas as crianças tenham vivenciado este momento.
e) A etapa seguinte consiste em trabalhar com o tema e todos os objetos
que estavam no saco. Isto pode se dar de diferentes formas conforme os
objetivos traçados pelo professor:
– Explorar os sinais de todos os objetos expostos;
– Brincar com as configurações de mão dos mesmos;
– Explorar o nome dos objetos em alfabeto manual e português;
– Comparar e analisar as palavras;
– Explorar o tema;
– Registrar a atividade em desenho e/ou português, trabalhando depois
com o que for elaborado.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
56
Exemplo: Tema a ser desenvolvido – HÁBITOS DE HIGIENE
1) Objeto a ser tirado: PAPEL HIGIÊNICO
􀁺Conversação em língua de sinais antes de ver o material: “Como é?
É redondo, é macio, dá para amassar, parece papel, é pequeno, é bom
de pegar,..... é papel higiênico!!!”
􀁺O objeto é mostrado e mais explorado: “É mesmo macio? Qual é o sinal
dele? Qual é a marca? Que cor é esta? Existe de outras
cores e marcas? Quais vocês conhecem? Para que serve?
Qual é o nome em português? Alguém sabe fazê-lo em
alfabeto manual? É formado por duas palavras:
“papel” e “higiênico”. O que significam cada uma?
É o mesmo papel onde escrevemos e desenhamos?
É possível desenhar ou escrever no papel higiênico?
Por que não usamos para isto?”
Idéias para ensinar português para alunos surdos
57
2) Depois que todas as crianças participaram trabalha-se com todos os
sinais e nomes dos objetos expostos:
􀁺Listar os objetos em língua de sinais;
􀁺Escolher um objeto e criar frases sobre ele em sinais;
􀁺Apresentar configurações de mão e relacionar com os objetos.
Exemplo:
Cf : Objetos: – escova de cabelo
– toalha
– pente
– escova de dente
􀁺Montar cartões com os sinais, cartões com os nomes em alfabeto
manual e cartões com os nomes em língua portuguesa, e brincar com
todos eles.
Exemplo:
a) Pegar um cartão em alfabeto manual
e colocar junto ao material
correspondente;
b) Pegar um cartão em português e
juntar ao cartão em sinal;
c) Pegar um cartão com o sinal e dramatizar
uma situação de uso deste
material para que os colegas o identifiquem em alfabeto manual;
d) Pegar um cartão e criar uma frase em língua portuguesa sobre o objeto
escolhido;
e) Aproveitar os cartões e montar as cartelas para jogo de bingo.
ESPELHO
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
58
3)Trabalhar com o tema proposto7:
􀁺Promover conversas e trocas de informações em língua de sinais sobre
os hábitos de higiene pessoais e familiares;
􀁺Pesquisas em jornais, revistas e internet sobre hábitos de higiene;
􀁺Trabalhar com texto sobre o assunto;
􀁺Propor exercícios gráficos para fixação do conteúdo:
Uso para lavar as
mãos
Uso para cortar
unhas
Uso para escovar os
dentes
Creme dental
tesoura
sabonete
Relacione
Recorte as palavras, cole nos espaços adequados e desenhe as frases:
Eu lavo meus cabelos com _____________.
Eu seco meus cabelos com _____________.
Eu penteio meus cabelos com___________.
tolha pente xampu
Idéias para ensinar português para alunos surdos
7 Todos os sinais desenhados foram retirados do Dicionário de Libras de Capovilla e Raphael (2001).
59
􀁺Pedir que os alunos tragam materiais de higiene corporal usados em casa
para que, depois de explorados numa conversação em língua sinais (formas,
tamanhos, perfumes, cores, marcas) , os dados sejam usados para
atividades gráficas:
Desenhe o que eu posso usar para:
Escovar os dentes Tomar banho
QUANTOS MATERIAIS DE HIGIENE CADA UM TROUXE?
FELIPE
GUSTAVO VARGAS
GUSTAVO VIEIRA
IGOR
JEAN
LUANA
Quantos materiais o Igor trouxe?
Quantos materiais o Felipe trouxe?
Quantos materiais o Gustavo Vargas e o
Jean trouxeram ao todo?
Quem trouxe mais coisas?
Quem trouxe menos coisas?
Quem não trouxe nada? Por que?
O ______trouxe uma toalha branca.
A escova de dente do Felipe é ______.
O Gustavo Vieira trouxe __________,
___________ e ____________.
Nós contamos: ________ pentes
________xampus
________tesouras
Observe o painel e forme frases:
. A Luana ________________________________________________________
. A escova de dente _________________________________________________
. Nós ____________________________________________________________
. Eu _____________________________________________________________
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
60
2.3 Trabalhando com "MESAS DIVERSIFICADAS"
Esta dinâmica foi desenvolvida pela professora Jane Agne, do Rio Grande
do Sul, frente às dificuldades e os desafios com que se deparava no trabalho de
alfabetização de surdos. O que será apresentado a seguir é, no entanto, uma
adaptação da sua proposta original.
OBJETIVOS
􀁺Desenvolver na criança autonomia para realização de tarefas;
􀁺Atender de forma individualizada as dificuldades específicas de cada
criança;
􀁺Propiciar, num mesmo período de aula, atividades diversificadas (de
fixação de conteúdo, de expressão artística, lúdicas,...) de forma dinâmica e
interessante.
MATERIAL
􀁺Dependerá das atividades programadas para as mesas podendo ser:
– materiais para atividades artísticas – tinta, pincéis, lápis coloridos,
massa de modelar, papéis coloridos, argila, sucata, .....
– materiais para atividades gráficas – papel, lápis, borracha, gravuras,
materiais de contagem,...
– materiais para atividades em língua de sinais- gravuras, textos, fichário,...
– materiais para atividades lúdicas – jogos de memória, bingo, quebracabeças,
jogos com atividades pedagógicas específicas,...
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
a) Para desenvolvê-la o professor prepara atividades que possam abranger
as diversas áreas do conhecimento; podendo envolver uma ou mais
temáticas; tendo o cuidado de incluir alguns jogos e/ou brincadeiras;
b) As atividades podem ser realizadas individualmente ou em pequenos
grupos, conforme os objetivos traçados pelo professor;
Idéias para ensinar português para alunos surdos
61
c) Deve-se ter o cuidado de variar entre atividades que a criança possa
realizar sozinha e atividades que a criança venha demonstrando
dificuldade em aula, para que possa ter um reforço neste momento.
d) As atividades são distribuídas em mesas (carteiras) onde devem estar
também todos os materiais necessários para a realização da tarefa.
O número de mesas deverá ser maior que o número de crianças,
é importante que haja 2 ou 3 mesas a disposição para manter o fluxo de
revezamento das crianças nas atividades;
e) Antes do início da dinâmica o professor explica, para todo o grupo,
cada uma das atividades – como deve ser realizada, que materiais
podem ou não ser usados como apoio, quais serão individuais e quais
serão em grupo,etc.;
f) A criança pode escolher a mesa/atividade que deseja realizar primeiro.
Sempre que terminar uma tarefa deverá trocar de mesa até que tenha
passado por todas as mesas ou até que termine o tempo determinado
pelo professor para esta atividade;
g) No desenrolar desta dinâmica o professor sentará com as crianças,
individualmente, para trabalhar aquilo que cada um tiver maior
necessidade;
h) No final das atividades de mesas diversificadas, ou na aula seguinte,
poder-se-á fazer e explorar um registro geral da dinâmica, usar os dados
quantitativos dela para a criação e resolução de problemas matemáticos
e usar os materiais produzidos nela para outras atividades com a
língua portuguesa.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
62
Exemplo 1: Mesas para o tema – Os Meios de Transporte
􀁺Mesa 1 – Atividade de atenção e discriminação visual:
Observar uma gravura do centro de
uma cidade e desenhar num outro
cartão todos os meios de transporte
que encontrar.
Material: gravura bem escolhida,
cartões conforme o número de
crianças e lápis de cor.
􀁺Mesa 2 – Atividade de resolução de problemas matemáticos:
Em duplas, cada um escolhe uma folha,não pode ser igual, e resolve três problemas
matemáticos. Só depois, trocam os papéis para a correção. Material: diversas
folhas xerocadas, com problemas matemáticos que envolvam meios de transporte,
lápis e borracha.
􀁺Mesa 3 – Atividade de leitura e interpretação escrita:
Ler um texto com atenção e responder.
Material: um texto, sobre o tema, todo ilustrado que a criança consiga compreender
sozinha ou um texto mais elaborado que o professor queira trabalhar e, para
tanto, ficará nesta mesa com todos que por ela passarem; folhas com as perguntas
de interpretação para cada uma das crianças, lápis e borracha. Sugestão para
última pergunta – “O que você acha que aconteceu depois?”
Uma variação desta atividade seria apresentar somente a gravura para ser
observada, com as perguntas de interpretação escrita:
Idéias para ensinar português para alunos surdos
63
􀁺Mesa 4 – Atividade de expressão artística:
Pode ser individual, em duplas ou trios. Construir um meio de transporte de forma
bem criativa, à escolha do aluno, com os materiais que estão sobre a mesa.
Material: sucatas, colas, tesouras, canetas coloridas, barbantes, botões, ...
􀁺Mesa 5 – Atividade de produção escrita:
Observar uma cena (sobre o tema) e
escrever uma história sobre ela.
Material: uma cena colada num
cartão colorido, que apresente riqueza
de informações e possibilite diferentes
interpretações, folhas coloridas, lápis e
borracha.
Atividade:
Pense e responda no caderno:
1. Que meios de transporte você vê?
2. Quantos meios de transporte você vê?
3. O tem mais: caminhões ou carros?
4. Quantas bicicletas tem?
5. O que tem menos: caminhões ou motos?
6. Quantas pessoas você vê?
7. Nesta cidade tem livraria?
( ) Sim ( )Não
8. Escreva 5 meios de transporte que você não
vê nesta cidade.
9. O que os homens estão fazendo na fábrica SÓ
TOMATE S.A.?
10 Que os homens fazem na padaria?
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
64
􀁺Mesa 6 – Atividade lúdica:
Jogo de memória sobre o
tema (sinal-palavra ou
figura-palavra),
que pode ser em duplas
ou em trios.
Cada criança anota os
pares de meios de
transporte que conseguir
encontrar.
Material: um jogo de
memória sobre os meios de transporte, de preferência confeccionado
anteriormente pelas próprias crianças, cartões e lápis para que elas registrem
seus pares.
􀁺Mesa 7 – Atividade de fixação
de conteúdo:
Resolver atividades escritas sobre o tema.
Material: fichas com exercícios de revisão
sobre o tema (conceitos, classificações,
trânsito,sinalização e tudo que possa ter
sido trabalhado em aula) e fichas com as
respostas para que a criança possa fazer
uma auto-correção ao terminar esta
atividade.
CARRO
Idéias para ensinar português para alunos surdos
65
􀁺Mesa 8 – Atividade com o vocabulário:
Recortar os sinais e as palavras da folha;
juntar o sinal ao nome do meio de transporte
correspondente e colar no caderno.
Material: folhas contendo meios de
transporte misturados, em sinal e em
português escrito, tesoura e cola.
􀁺Mesa 9 – Atividade de expressão corporal:
Regras de trânsito – Em duplas,pegar uma ficha da caixa de gravuras e apresentar
o que vê em forma de mímica para seu colega e ele terá que procurar na caixa
com fichas escritas a regra que você representou; depois inverter os papéis.
Material: duas caixas com fichas sobre regras de trânsito, uma com gravuras e
outra com frases. Outra variação é brincar com as placas de sinalização, onde
uma criança escolhe uma placa de uma caixa para o colega representar uma
situação correspondente a ela.
Complete :
AVI__ __ C__RR__Ç__ BA__C__
B__CI__ __ __ TA Ô __ __ B__S
Desenhe:
A Andréia viajou de avião.
O Paulo andou no trem.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
66
􀁺Mesa 10 – Atividade de criatividade:
Desenhar, como a criança imaginar, um meio de transporte do futuro. Material:
folhas de desenho, lápis, tinta ou giz de cera.
Exemplo 2: Atividades para aproveitar a dinâmica anterior:
a) Trabalhar descrição utilizando os materiais confeccionados na mesa 4:
– Distribuir todos os modelos confeccionados entre as crianças (carros,
ônibus, barcos,..) e pedir que contem como ele é, de que material foi
feito e para que serve;
– Fazer a descrição em sinais;
– Registrar a descrição em português.
b) Retomar o texto da mesa 3 e trabalhar, em grupo, aspectos do português
que o professor achar relevantes, conforme as dificuldades apresentadas
pelas crianças:
– Primeiro rever o texto em língua de sinais e repassar o vocabulário;
– Trabalhar com aspectos gramaticais do texto: verbos, pronomes, estruturação
frasal, elementos de coesão, pontuação,... mas sempre dentro
do contexto.
c) Montar um livro com a gravura e todas as produções da mesa 5:
– Fazer uma coletânea de histórias, reunindo-as num livro;
– Explorar com as crianças a elaboração do livro: capa, autores,
ilustração,escolha conjunta do título,....
d) Montar atividades matemáticas ou de interpretação com os dados
obtidos da atividade da mesa 6. Exemplo:
Dupla 1 Márcia 6 Paula 4
Dupla 2 João 10 Sônia 0
Dupla 3 Paulo 1 Vítor 9
Dupla 4 Andréia 1 Lucas 9
Dupla 5 Carol 5 Luís 5
Idéias para ensinar português para alunos surdos
67
– Quantas duplas jogaram?
– Quem encontrou mais pares?
– Quem não conseguiu nada?
– Que dupla empatou o jogo?
– Quantos pares de meios de transporte havia no jogo?
– Quantos pares Paulo e Lucas encontraram?
– Quem conseguiu menos pares: ( ) Márcia ( )Paula ( )Carol
e) Organizar uma exposição dos trabalhos para a escola:
– Combinar com os alunos data e forma de apresentação, tudo em língua
de sinais;
– Elaborar convites para a equipe escolar e para os pais.
f) Propor um seminário para a turma onde cada um terá que desenvolver
e apresentar um trabalho criativo e detalhado sobre sua atividade da
mesa 10:
– Contar em língua de sinais o que inventou: o que é ou como se chama;
de que material é feito; como se locomove, qual sua utilidade; qual sua
capacidade de lotação; qual o custo, cor, modelo, combustível, etc...
– As crianças também podem entregar este trabalho por escrito, conforme
o nível de aprendizagem da turma.
2.4 Trabalhando com "VIVÊNCIAS"
Trabalhar com vivências é altamente enriquecedor para a criança pois vai
experimentando, criando e descobrindo novos conceitos de forma prazerosa.
Também é enriquecedor para o educador, se este souber aproveitar cada
momento, cada detalhe do desenrolar da experiência para levantar questionamentos
que sejam significativos para as crianças e para seu trabalho como
um todo.
Convém esclarecer que a palavra VIVÊNCIA aqui significa toda situação
de experiência proporcionada às crianças, antecipadamente planejada (com elas
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
68
ou pelo professor) e com objetivos bem definidos. Inclui-se, portanto, a realização
de experimentos em sala, passeios, visitas, preparação de materiais, confecção
de jogos e livros, organização e/ou participação em eventos na sala, na
escola ou fora dela, etc. Toda vivência está contextualizada em um texto “oral”,
ou seja, o professor e as próprias crianças conversam sobre o que está acontecendo.
Assim, no caso das crianças surdas sempre este processo acontece
na língua de sinais, passando-se posteriormente para o registro escrito na
língua portuguesa.
OBJETIVO
􀁺Proporcionar à criança situações de aprendizagem a partir de vivências
interessantes e significativas.
MATERIAL
􀁺Dependerá da experiência ou vivência planejada.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
a) A experiência deve ser bem planejada nos seguintes aspectos:
– Objetivo: com que finalidade se realizará esta atividade, que conteúdos
curriculares pretende-se desenvolver, que experiências de vida, de grupo,
de comunidade pretende-se proporcionar às crianças;
– Local e data: quando e onde será realizada, se necessita agendamento
antecipado, se necessita autorização dos pais, se necessita transporte,
se não prejudica ou interfere em outras atividades da escola;
– Recursos materiais: que materiais serão utilizados, se existem na escola
ou precisam ser trazidos pelas crianças, se a atividade é fora da escola o
que precisa ser levado, que equipamentos precisam ser solicitados e
reservados com antecedência;
– Desenvolvimento: como a experiência será desenvolvida, em que etapas,
que tarefas cada um desenvolverá ou será toda em grupo, terá um
coordenador ou não, o que será feito com o material que possa ser
Idéias para ensinar português para alunos surdos
69
produzido, quanto tempo será necessário para esta atividade, haverá
outras pessoas envolvidas ou não;
– Registro: é fundamental que a experiência seja registrada. Pode ser em
forma de texto, de livro, de cartaz, de álbum, de informativo para a
escola, de desenhos ou histórias em quadrinhos,... Deve-se registrar
detalhes como: o que deu certo e o que deu errado, quem participou e
quem faltou, as curiosidades, as emoções, se gostaram ou não, e o que
aprenderam.
– Aproveitando a experiência: que atividades serão desenvolvidas nos
dias subseqüentes à vivência, que outras áreas do conhecimento poderão
ser relacionadas e trabalhadas posteriormente, que curiosidades ou
necessidades poderão ser exploradas a partir desta experiência, e ainda
que aspectos ou de que forma ela pode ser aproveitada para o ensino da
língua portuguesa.
b) Exemplo 1: Trabalhando com o Reino Vegetal
A foto abaixo mostra um grupo de surdos de 3ª série fazendo um estudo
sobre o Reino Vegetal.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
70
Para introdução do assunto a turma passou a tarde num sítio para conhecer
tudo o que fosse possível sobre plantas:
– diferenças quanto ao tipo- árvores, arbustos, plantas rasteiras, parasitas;
– utilidades – as que dão frutos comestíveis, as que são usadas para chás,
os diferentes usos da madeira;
– conhecer diferentes flores, folhas e sementes;
– partes das plantas;
– conceituação de jardim, horta e pomar;
– outras curiosidades surgidas no momento da vivência.
Nas semanas subseqüentes foram desenvolvidos vários trabalhos em sala
a partir desta experiência:
􀁺Registro em forma de texto sobre a visita, elaborado em conjunto
durante uma conversação em língua de sinais um dia após a vivência:
O PASSEIO NO SÍTIO.
Nossa turma foi passar a tarde num sítio em Viamão. Nós fomos de Kombi e demorou muito para
chegar.
Lá nós conhecemos muitas plantas. Aprendemos a diferença entre árvores, arbustos e plantas rasteiras.
Também aprendemos que jardim, pomar e horta não são a mesma coisa.
Havia muitas flores: margaridas, camélias, azaléias, hortênsias e orquídeas. Pegamos algumas para
trazer à escola. Também havia muitas árvores frutíferas e conhecemos a pitangueira e a nogueira. Tinha
abacateiro, dois tipos de limoeiro, pereira, caquizeiro, laranjeira e outros.
Nós vimos as plantas que servem para fazer chá e elas são bem diferentes umas da outras.
No sítio havia três tipos de pinheiros e muitos eucaliptos.
Aprendemos muitas coisas lá e depois de estudar fizemos uma salada de frutas para comer.
Nós andamos no trator e foi bem legal.
No final da tarde voltamos para a escola e quando chegamos o sinal já havia batido e a aula terminado.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
71
Como o texto foi elaborado em conjunto, com todas as informações que
os alunos quiseram incluir, ele ficou muito extenso e cheio de novos conceitos,
por isso foi sendo trabalhado (leitura, interpretação, vocabulário e temática)
em partes conforme a turma foi avançando nos conteúdos sobre vegetais.
􀁺Coleta de materiais para análise e descrição das partes das plantas:
Os alunos receberam a tarefa de procurar e trazer para a escola raízes,
partes de caules, folhas, flores e frutos de diferentes vegetais. Em sala fizeram os
cartões com os nomes destas partes e discutiram sobre as diferenças e semelhanças
entre elas, bem com as funções de cada uma. Após organizaram tudo
numa estante devidamente identificado.
Com as flores fizeram também um cartaz e com as folhas trabalhos de
produção artística.
Vários frutos foram abertos para coletar as sementes e com elas foi montado
um “Álbum de Sementes”.
􀁺Montagem de um painel sobre
a utilidade das plantas:
Foi feito a partir de pesquisa e
complementado com texto.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
72
􀁺Experiência acompanhada de registro diário sobre germinação e as necessidades
das plantas:
Primeiro este conteúdo foi trabalhado em sinais e com apoio de gravuras.
Depois foi iniciada e acompanhada diariamente, com registros desenhados
e escritos, a experiência de germinação com feijões expostos a diferentes
ambientes e recebendo diferentes cuidados para se perceber as necessidades
das plantas.
􀁺Pesquisa com a família sobre os diferentes chás e seus benefícios;
􀁺Trabalhos com textos, aquisição e fixação de novos vocabulários, sempre
precedidos por conversação em língua de sinais;
􀁺Organização de todos os materiais e conhecimentos adquiridos para a
Mostra de Ciências da escola.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
73
c) Exemplo 2: Atividades com Tradições Gaúchas
A Experiência descrita a seguir foi realizada numa turma de 1ª série numa
escola de surdos do Rio Grande do Sul. Lá no mês de setembro é comemorada
a Semana Farroupilha e o grupo estudava as tradições gaúchas: roupas , danças
e comidas típicas. Dentro destes assuntos, que já haviam sido explorados em
aula, foi escolhido fazer com os alunos um prato típico: o Carreteiro.
– A experiência foi realizada na cozinha da escola.
– Os alunos trouxeram de casa os ingredientes necessários, que foram
explorados em sinais antes de fazer o carreteiro.
– Todos participaram do preparo da comida e por fim comeram e comentaram
a experiência.
– Em sala fizeram um relato da atividade em sinais que foi passado para o
português pelo professor, considerando o estágio de alfabetização do grupo:
CARRETEIRO
NÓS FIZEMOS CARRETEIRO.
NO CARRETEIRO TEM ARROZ, CARNE, TOMATE, CEBOLA,SALSA, SAL E AZEITE.
O CARRETEIRO É QUENTE.
NÓS COMEMOS MUITO.
– Como o tema Tradições Gaúchas já vinha sendo explorado, o foco desta
vivência foi trabalhar com vocabulário: foram usadas fichas com gravura de
todos os ingredientes; exercícios relacionando sinal/alfabeto manual, sinal/palavra
em português,alfabeto manual/palavra; formular frases; completar frases;
... além de todo o trabalho de leitura e compreensão do texto escrito.
– Esta vivência também serviu de “gancho” para dois novos temas:
Alimentos e Trabalhando com Receitas.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
74
2.5 Trabalhando com "LEITURA E VOCABULÁRIO"
O profissional que trabalha a Língua Portuguesa com surdos sabe da importância
que tem a ampliação e fixação de vocabulário para o desenvolvimento
da leitura e escrita dos mesmos. Sabe também que trabalhar com listas de
palavras soltas, fora de um contexto, não produz bons resultados na aprendizagem
de uma língua, então comumente as "palavras novas" são trabalhadas partindo-
se de textos.
A sugestão colocada aqui é que tanto a aquisição quanto a fixação de
vocabulário, e conseqüentemente o desenvolvimento na leitura, aconteçam
também a partir de jogos e brincadeiras realizados com a criança. Aproveitar
esses momentos prazerosos como situações de aprendizagem, podem contribuir
muito para o desenvolvimento da criança nessa nova língua.
OBJETIVO
􀁺Ampliar e fixar o conhecimento de palavras da Língua Portuguesa de
forma lúdica.
MATERIAL
􀁺Dependerá do jogo escolhido. Os materiais poderão ser adquiridos
comercialmente ou confeccionados palas crianças conforme a atividade a
ser desenvolvida, observando-se características como apresentação visual e
durabilidade.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
75
DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
a) Jogo de memória:
􀁺Montar diferentes jogos de memória seja:
. sinal x gravura . sinal x palavra
. alfabeto manual x palavra . gravura x palavra
􀁺Utilizar vocabulário que esteja sendo trabalhado em aula (verbos, meios
de transporte, países,...) para fixação, ou confeccioná-lo por classificação
aleatoriamente (comidas, bebidas, vestuário, brinquedos, animais,...)
para introdução de palavras novas;
􀁺Trazê-los pronto ou confeccioná-los com os alunos;
􀁺Aproveitando a brincadeira: durante a partida sempre que um par for
encontrado o aluno, individualmente, ou o grupo terá que repetir a
palavra em alfabeto manual.
No final do jogo cada criança registra no caderno os seus pares para desenhá-
los depois ou formar frases escritas; o professor aproveita as palavras para
atividades posteriores; ...
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
76
b) Baralho
􀁺Montar um baralho de letras (português
ou alfabeto manual) ou de
sílabas com os alunos.
􀁺Como jogar: metade das cartas são
distribuídas e a outra metade fica
no monte. A primeira carta do
monte é virada e colocada na
mesa. A criança, na sua vez, compra
do monte ou da mesa, baixa as
palavras que conseguir formar e descarta sempre uma carta no final da
sua jogada. Vence o jogo aquele que terminar primeiro suas cartas ou
quando acabarem as do monte.
􀁺Cada letra ou sílaba do baralho pode ter uma pontuação, assim os
alunos poderão somar seus pontos conforme as palavras que conseguirem
formar, porém só ganharão os pontos se souberem o sinal
cor-respondente;
􀁺Aproveitando a brincadeira: no final de cada partida as palavras são
registradas e no final da brincadeira pode ser montado um minidicionário
com todo o vocabulário do jogo para ser aproveitado em
outras atividades de português.
c) Jogo do Mico:
􀁺Usar a idéia do jogo do mico e criar,
junto com os alunos, um baralho
sinal-palavra-figura para jogar
em sala.
􀁺Aproveitando a brincadeira: ao terminar
o jogo cada criança deve fazer
para os colegas, em alfabeto
Idéias para ensinar português para alunos surdos
77
manual, todas as palavras dos seus pares, de preferência sem apoio
visual, e registrá-las no caderno;
d) Forca:
􀁺A brincadeira pode ser feita no quadro, em folhas, no caderno,...
􀁺As letras vão sendo sugeridas em alfabeto manual e escritas em português
até completar a palavra.
􀁺Aproveitando a brincadeira: pode ser feita em grupo aonde o professor
vai incluindo palavras novas para os alunos; pode ser feita em duplas
onde os alunos tenham que escolher palavras que já conhecem; pode
ser feita como competição entre equipes onde os alunos são estimulados
a pensar em palavras mais difíceis ou maiores; em todas as formas
as palavras devem ser listadas e aproveitadas em outras atividades de
português.
e) Bingo:
􀁺Montar diferentes jogos de bingo:
– cartões com palavras e cartelas com sinais;
– cartões com sinais e cartelas com palavras;
– cartões com alfabeto manual e cartelas com letras ou palavras;
– cartões com configuração de mão e cartelas com figura e palavra;
– cartões com palavras e cartelas com figuras;
􀁺Utilizar o vocabulário dos
conteúdos de aula para fixação;
􀁺Aproveitando a brincadeira:
no fim de cada rodada
todos terão que copiar as
palavras marcadas na sua
cartela.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
78
Formarão frases ou pequenos textos em português com as palavras registradas.
Esta brincadeira também pode ser aproveitada para montar em conjunto
situações problemas ou de interpretação escrita com os dados que obtiverem
dela. Exemplo: As crianças brincaram com um bingo de animais. Ao final do
jogo montaram um cartaz com a tabela abaixo e marcaram somente os animais
que havia na sua cartela. Depois responderam as questões no caderno.
cachorro gato sapo pato
João X - X X
Maria - - - X
Ana X X X X
Carlos - - - -
1. Quantos colegas marcaram sapo?
2. Quem marcou pato?
3. Quem não marcou nada?
4. Quem venceu a rodada?
5. Que animais João marcou?
6. Maria e Ana tinham animais comuns? Quais?
f) Jogo de Corrida:
􀁺Criar jogos de corrida de tabuleiro, com dados, onde para avançar
o aluno tenha que dar respostas em português através do alfabeto
manual;
􀁺Podem ser confeccionados em cima de conteúdos que estejam sendo
trabalhados, por exemplo: materiais de higiene, materiais de sala de
aula, alimentos, animais, países, ...
􀁺Aproveitando a brincadeira: montar um mural com fichas das palavras
que apareceram no jogo.
Montar textos registrando a atividade.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
79
g) Quebra-cabeças:
􀁺Confeccionar quebra-cabeças ou
aproveitar jogos já existentes;
􀁺Os quebra-cabeças podem ser montados
individualmente, em duplas
ou em pequenos grupos, pela turma
em conjunto,ou ainda como competição
entre equipes;
􀁺Aproveitando a brincadeira: após ser montado o quebra-cabeça pode
ser bem explorado quanto aos elementos que aparecem nele (substantivos,
verbos, adjetivos,...), primeiro através de conversação em língua
de sinais e depois através de registro em Língua Portuguesa.
Podem ser feitas listagens em grupo ou separadamente verificando depois
quem conseguiu levantar mais palavras em português.
Criar uma história em língua de sinais sobre o quadro montado e depois
transcrevê-la para o português.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
O que você vê?
_______________
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_______________
_______________
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_______________
_______________
_______________
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_______________
Minha história:
_______________
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_______________
80
h) Palavras Cruzadas:
􀁺Brincar com o jogo de palavras cruzadas, encontrado em lojas ou livrarias.
A criança tem que formar palavras e somar seus pontos conforme as letras
utilizadas. Depois anotam todas as palavras que forem formadas na partida,
para trabalhar posteriormente.
􀁺Montar cruzadinhas (em português ou alfabeto manual) com
vocabulário dos conteúdos de aula.
􀁺Aproveitando a brincadeira: as crianças podem criar as cruzadinhas,
com figuras, sinais ou frases que caracterizem ou conceituem as palavras
escolhidas ou o professor cria as cruzadinhas com as palavras que
os alunos tem mais dificuldade de fixar.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
81
i) Adivinhações:
􀁺Utilizar adivinhações já existentes ou criar novas conforme o que se
esteja trabalhando.
􀁺Aproveitando a brincadeira: lançar a adivinhação em língua de sinais
para que os alunos respondam em sinais e em português; lançar a adivinhação
de forma escrita para trabalhar a compreensão do português,
reforçando as palavras novas.
j) Stop:
􀁺Escolher em conjunto todos os itens que os alunos quiserem incluir no
jogo (nomes de pessoas, cidades, alimentos, animais,vestuários, meios
de transportes,...) ou o professor mesmo os escolherá conforme o objetivo
que tiver traçado para esta atividade;
􀁺Os itens escolhidos são colocados em sinais. As letras escolhidas para
cada rodada podem ser confeccionadas em cartões com alfabeto
manual e colocadas dentro de um saco. Uma é sorteada e cada criança
terá que completar sua lista com palavras começadas por esta letra.
O primeiro que completar toda a lista faz o sinal de PARE (stop) e
todos param de escrever.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
LETRAS PONTOS
82
􀁺Quanto à pontuação cada palavra não repetida pelos colegas vale 10
pontos e as palavras repetidas valem 5 pontos. Ao final de cada partida
faz-se a contagem e ganha quem, no final do jogo, somar o maior número
de pontos;
􀁺Aproveitando a brincadeira: listar e trabalhar com todas as palavras
colocadas no jogo; montar um varal com pequenos cartazes dos
itens incluídos no jogo, onde são listadas as palavras desta e de outras
partidas durante uma ou duas semanas; sortear entre os alunos as
palavras de cada cartaz para que formem frases ou pequenos textos
com as mesmas.
k) Mímicas:
􀁺Confeccionar vários cartões com palavras em português que estejam
sendo trabalhadas.
􀁺Sortear os cartões entre os alunos que terão que ler a palavra,
reconhecê-la, de preferência sem ajuda, e representá-la através de mímica
para que os colegas descubram qual é.
􀁺Aproveitando a brincadeira: a resposta não pode ser dada em sinal,
precisa ser escrita no quadro pois o objetivo é o português.
As palavras ficam no quadro até o final das apresentações e depois são
copiadas por todos sendo aproveitadas em outras atividades.
As apresentações dos alunos também podem ser registradas em forma
de texto.
l) Sinais Relacionados:
􀁺Esta é uma dinâmica que trabalha com vocabulário e foi apresentada
nas formas oral e sinalizada num curso de formação de intérpretes. Aqui
ela foi adaptada para a aprendizagem e ampliação de vocabulário escrito
na língua portuguesa.
􀁺Consiste em apresentar um sinal-tema (e se necessário conceituá-lo),
escrevê-lo em português no quadro e pedir que as crianças dêem todos
Idéias para ensinar português para alunos surdos
83
os sinais que possam conhecer relacionados a este. Deve-se listar no
quadro tudo o que elas derem para trabalhar posteriormente.
Exemplo 1: sinal-tema: festa de casamento
sinais-relacionados: noiva, noivo, padrinhos, bolo, igreja,véu,
convidados, aliança, buquê, dança, presente,...
Exemplo 2: sinal-tema: futebol
sinais-relacionados: jogador, juiz, bola, apito, pênalti,cartões,
bandeirinha, torcida, bandeira, gol, falta, ...
􀁺Aproveitando a brincadeira: a lista de palavras resultante desta
atividade pode ser trabalhada de diversas maneiras, dependendo do
objetivo que o professor queira alcançar:
– pode-se montar um jogo de memória ou um bingo se a necessidade for
fixação deste vocabulário;
– pode-se estimular as crianças a produzirem textos criativos fazendo uso
destas palavras;
– pode-se utilizá-las para trabalhar aspectos gramaticais da Língua Portuguesa;
– pode-se desenvolver algum projeto a partir do tema lançado na brincadeira.
m) Baralho de Configuração de Mãos:
􀁺Consiste em se ter um baralho com
as configurações de mãos mais
utilizadas na língua de sinais e
usá-lo como base para explorar
palavras em português.
􀁺As cartas são embaralhadas e uma
delas é escolhida e apresentada
para o grupo; cada criança tem
que lembrar um sinal com a con-
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
84
figuração de mão contida nesta carta, apresentá-lo e o professor
escreve a palavra correspondente no quadro.
􀁺Aproveitando a brincadeira: uma maneira de trabalhar com a fixação
deste vocabulário é variar a atividade pedindo que a criança faça
em alfabeto manual todas as palavras anteriores e só depois apresente
a sua.
Pode-se utilizar as palavras aprendidas para produção textual.
Pode-se criar e registrar em conjunto frases ou histórias em que apareçam
somente, ou predominantemente, a configuração de mão escolhida no baralho.
Exemplo: cf : “P” :
“O professor dela convidou umas pessoas para comer pizza.”
“Um político que visitou o Paraguai falou com o presidente e
pediu paz para o povo.”
2.6 Trabalhando com “PRODUÇÃO ESCRITA”
OBJETIVO
􀁺Proporcionar à criança o conhecimento e aprimoramento do uso da
Língua Portuguesa escrita;
􀁺Estimular, através de diferentes técnicas e recursos, a criatividade e a
capacidade da criança de externar seus pensamentos de forma clara e
objetiva.
MATERIAL
􀁺Dependerá da atividade que irá desenvolver: gravuras, textos, gibis,
revistas, jornais, jogos pedagógicos, brincadeiras e outros.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
􀁺Serão apresentadas várias sugestões para estimular a produção escrita:
Idéias para ensinar português para alunos surdos
85
a) Produção livre a partir de gravuras:
– Selecionar gravuras que possibilitem riqueza de conteúdo/informações.
– Explorar em língua de sinais tudo o que se observa na gravura: personagens,
objetos, cenário, detalhes que chamem a atenção, ações ali identificadas,
sentimentos ou emoções expressas na gravura,... Registrar no
quadro todas as palavras ou expressões que surgirem ou forem solicitadas
neste momento.
– Estimular o pensamento e criatividade das crianças para além do que se
vê : O que aconteceu antes? O que se fará ou acontecerá depois? Com
quem? Onde? E depois ainda?...
– Aproveitar a gravura para identificar e discutir temas trabalhados
em aula.
– Criar histórias escritas individual ou coletivamente.
– Trabalhar posteriormente com o vocabulário novo posto no quadro e
solicitado pelas crianças.
Exemplo 1:
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
86
Explorando a gravura:
– O que você vê?
– Quem você acha que são estas pessoas?
– Onde elas estão?
– O que pensa que estão fazendo?
– Será que são apenas amigos ou uma grande família?
– Porque estão parados ali?
– De onde eles vieram?
– E para onde irão? Fazer o que?
– E depois o que acha que vai acontecer?
– Para onde o menino e a menina estão indo?
– O que será que eles viram?
– Você já esteve num lugar assim?
Exemplo 2:
Depois de explorar uma gravura e ter como apoio as palavras no quadro,
pedir que criem uma história sobre ela.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
87
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
88
b) Produção a partir de histórias em seqüência:
– Existem várias formas de se trabalhar com história em seqüência: podese
entregar a história já ordenada; pode-se entregar a história misturada para
que as crianças organizem os fatos; pode-se entregar faltando alguma parte dela
para que as crianças a completem (início, meio ou fim); ... No entanto
em qualquer destas formas pode-se dar o apoio de vocabulário solicitado
pela criança.
– Pode-se trabalhar produção a partir de histórias em seqüência, utilizando
também registros de atividades ou experiências de aula, criados pelas
crianças em forma de tirinhas ou quadrinhos.
– Solicitar sempre que a criança conte a história em sinais para se observar
se demonstrou compreensão e estruturação de pensamento.
Exemplo 1:
Observar a história em seqüência com os fatos já ordenados,contá-la através
da língua de sinais e depois redigi-la.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
89
Exemplo 2:
Organizar a seqüência dos fatos da história como a criança a perceber, o
que pode não ser a mesma ordem de acontecimentos que você esperava, desde
que o raciocínio tenha sentido, por isso precisa contá-la em língua de sinais e só
depois redigi-la.
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
90
Exemplo 3:
Criar (ou escolher) o início, meio ou final da história através de desenhos
ou colagens, apresentar sua idéia ao grupo e depois redigi-la.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
91
c) Produção a partir de roteiros dados:
– Selecionar uma gravura e montar um roteiro que auxilie a exploração da
mesma;
– Deve-se ter o cuidado de incluir questões que permitam respostas de
caráter subjetivo;
– O roteiro pode ser apresentado através de questionamentos escritos ou
através da língua de sinais, dependendo dos objetivos traçados pelo
professor;
– Depois de observada a gravura e discutidas as perguntas do roteiro,
a história será organizada a partir das respostas dadas pela criança;
– O texto produzido pode ser redigido individual ou coletivamente;
Exemplo 1:
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
92
Exemplo 2:
Exemplo 3:
Idéias para ensinar português para alunos surdos
93
d) Produção a partir de vocabulário trabalhado:
– Selecionar gravura que contemple uma diversidade grande de vocabulário
ou que contemple vocabulários pertinentes ao tema que o
professor se propôs a trabalhar;
– Permitir à criança explorar em língua de sinais todos os elementos apresentados
na gravura, concretos e abstratos (objetos, ações, sentimentos,
fenômenos da natureza,...);
– A criança lista o vocabulário já conhecido por ela; em seguida trabalhase
coletivamente este vocabulário e mais o vocabulário novo que lhe
for apresentado;
– A partir da lista de palavras trabalhadas e tendo-a como apoio cada um
cria sua história ao lado da gravura.
Exemplo 1: Vocabulário livre
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
94
Exemplo 2: Vocabulário dirigido
Exemplo 3: Vocabulário oferecido
Idéias para ensinar português para alunos surdos
95
e) Produção a partir de textos já iniciados:
– Explorar a gravura de apoio, se houver, e o texto já iniciado através de
conversação em língua de sinais;
– Completar o texto, podendo ser desenvolvimento e conclusão ou somente
conclusão. É muito importante que depois de escrito, o texto
seja lido pela criança em sinais para que o professor possa interpretar
com clareza esta produção, avaliar e, posteriormente, trabalhar todos
os aspectos gramaticais que julgar necessário, considerando nível de
produção escrita em que a mesma se encontra.
Exemplo 1: Exemplo 2:
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
96
f) Produção a partir de textos lidos:
– Selecionar o texto de um livro, artigo de revista, notícia de jornal,
ou outro e depois de bem trabalhado em língua de sinais aproveitá-lo para
produção escrita:
􀁺elaborar um resumo do texto;
􀁺recriar o texto acrescentando idéias ou modificando seu final;
􀁺transformar um texto em história em quadrinhos,reescrevendo-o de
modo adequado.
g) Produção a partir de atividades lúdicas:
􀁺Criar histórias individuais ou coletivas tendo como fonte alguma
atividade desenvolvida pela criança ou pela turma;
􀁺A atividade realizada é primeiramente discutida em língua de sinais e
depois redigida;
􀁺Sugestões:
– Montagem de quebracabeças:
A gravura montada é observada
pela criança e explorada
em língua de sinais junto com o
professor;
Ela é incentivada a extrapolar
o que vê – a imaginar o que
pode ter acontecido antes e depois
do que está observando;
Só então cria uma história
e a escreve.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
97
􀁺Jogo de memória:
Terminada a partida podese
registrar o desenvolvimento
do jogo em si ou cada criança
pode montar frases ou pequenos
textos com os pares que conseguiu
ganhar.
Exemplo: “Eu ganhei o
jogo. Encontrei o limão, a melancia,
a uva e o abacaxi.”
As frases também são trabalhadas em sinais.
􀁺Jogos com baralho:
Após o jogo,e depois de comentá-lo em
língua de sinais, pode-se escrever sobre a
brincadeira. Exemplo:
“Hoje nós jogamos canastra. Aprendemos
a fazer trincas e seqüências. A Ana ganhou
duas partidas.”
Pode-se também elaborar situações
matemáticas escritas com dados obtidos das
jogadas. Exemplo:
“Márcia fez 650 pontos na canastra e
Luís fez 280. Qual a diferença de pontos entre
os dois?”
Sugestões de atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos
98
􀁺Brincadeira da forca:
Pode-se listar as palavras ou frases desta
atividade para usá-las na produção de
texto,ou apenas para trabalhá-las posteriormente.
Exemplo: “Hoje nós brincamos de
forca. Ana e João não descobriram a palavra
e foram enforcados. Aprendemos três palavras
novas: temporal, aluguel e emprestar.”
􀁺Brincadeiras de pátio (de
roda, esconde-esconde, pega-pega,
pular corda, pular elástico, futebol,
caçador,...):
Qualquer brincadeira pode ser
registrada percebendo e descrevendo
todos os detalhes como: quem participou,
onde foi realizada, quem venceu,
quem perdeu, houve confusão ou não,
gostaram ou não, foi tranqüila, foi
cansativa,querem repetir ou não...
􀁺Atividades de expressão artística:
Dramatizações feitas pela turma, peças
teatrais assistidas por ela, trabalhos artesanais
elaborados individualmente ou em
grupo podem ser registrados em forma de
texto ou história em seqüência.É interessante
que a criança possa externar também
o seu sentimento com relação à atividade
desenvolvida.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
99
Capítulo 3
Recursos Didáticos
São inúmeros os recursos didáticos que podem ser utilizados na educação
de surdos. O aspecto que faz a diferença é, sem dúvida, a criatividade do professor.
Muitos recursos surgem no dia-a-dia, quando o professor se vê diante de
uma situação em que se faz necessário algum apoio material para que consiga
alcançar, de forma eficaz, a compreensão da criança, ou para que a mesma consiga
acessar o conhecimento de forma plena. Muitos destes recursos não estão
aí, prontos para serem adquiridos, precisam ser confeccionados, precisam ser
criados. É bastante comum encontrar professores da área angustiados com esta
“falta de material” e, justamente por isso, é tão importante a troca de idéias
entre os profissionais, o registro e a divulgação destes recursos, seja em encontros
pedagógicos, seja via internet ou através de manuais ou livros, como este
que está em suas mãos neste momento.
O objetivo aqui não é esgotar este assunto pois, como foi dito acima, cada
situação de aula exigirá um material diferente e cada profissional precisará explorar
sua própria iniciativa, criatividade e habilidades para “inventar” o recurso
adequado à sua realidade naquele determinado momento. O que se pretende é
repartir algumas idéias de materiais já utilizados no trabalho com surdos (alguns
também utilizados com ouvintes) e com bons resultados no ensino do Português.
100
Serão apresentados a seguir alguns recursos, com a descrição dos mesmos
e algumas sugestões de como aproveita-los para o ensino da Língua Portuguesa:
a) FICHÁRIO
Descrição do material
􀁺Consiste em uma caixa repleta de fichas padronizadas, com figura e
palavra, de tudo o que se possa imaginar, que pode ser utilizada em
qualquer momento de aula, ou de conversa, ou de brincadeira, com o
intuito de mostrar à criança “o nome das coisas” em português ou, ao
contrário, o que determinada palavra representa.
􀁺Caixa: não deve ser muito pequena para que, ao longo do trabalho,
novas fichas possam ser acrescentadas. Sugestão: 50cm X 25cm. Deve
ser de material resistente pois será manuseada com freqüência.
􀁺Fichas: confeccionadas em papel cartão ou folhas de desenho, brancas,
com tamanho mínimo de 20cm X 15cm. Se possível que sejam plastificadas.
É claro que estas sugestões são para que se torne um material
Idéias para ensinar português para alunos surdos
101
durável e permanente mas, na impossibilidade de confeccioná-lo desta
forma, usa-se o material que tiver disponível.
􀁺Figuras: devem ser escolhidas figuras claras, bem nítidas e não muito
pequenas, devem ser também o mais próximo possível da realidade,
portanto figuras recortadas de revistas, jornais, fotos,... devendo-se evitar
o desenho. Também precisam ser figuras “limpas”, que não apresentem
elementos que possam desviar ou confundir a atenção, por exemplo:
ficha de cavalo – pode ter mais de um cavalo, de diferentes raças e
tamanhos, porém sem pessoas montadas ou outros animais próximos
(pássaros, borboletas,...).
􀁺Palavras: podem ser colocadas na ficha de formas diferentes: escrita só
com letra bastão ou escrita com letra bastão e cursiva; escrita abaixo da
figura, escrita atrás da ficha ou escrita num cartão à parte colocado
junto com a ela, possibilitando assim utilizar a ficha em atividades que
não exijam o apoio escrito.
􀁺As fichas podem ser organizadas na caixa por ordem alfabética ou por
classificação (alimento, vestuário, lugares, profissões, partes do corpo,...)
􀁺O fichário pode ser utilizado em diversos trabalhos e situações, portanto
deve estar num local de fácil acesso como numa estante, ou sobre a mesa
do professor. As crianças também podem e devem manuseá-lo livremente,
sendo assim estimuladas a desenvolver o hábito de, por iniciativa própria,
buscar e ampliar seu conhecimento da língua portuguesa.
Sugestões de uso:
– Apresentar palavras novas;
– Relacionar sinais feitos pela criança à figura ou palavra correspondente,
quando haja dúvida ou dificuldade de compreensão neste sentido;
– Brincar com o fichário, por exemplo: procurar figuras que comecem
com a letra sugerida pelo professor ou pelo colega em alfabeto manual;
organizar figuras conforme sejam escritas (por ordem alfabética, ou por
quantidade de letras ou sílabas, ou que comecem com a mesma letra,
Recursos didáticos
102
ou que usem a mesma configuração de mão...); organizar figuras por
classes de palavras, onde você mostra, por exemplo, um cartão escrito
BRINQUEDOS e as crianças têm que escolher entre várias fichas só
as que fazem parte deste conjunto; escolher uma figura e ter que representa-
la somente utilizando o corpo através de postura, expressão facial
ou mímica;...
– Fixar vocabulários: mostrar uma palavra para procurar a figura correspondente,
ou mostrar a figura para escrever a palavra
– Escolher 2 ou 3 fichas para a criança escrever algo utilizando todas elas.
Exemplo: “bola-casa-menina” – “A menina tem uma bola em casa.”
b) DICIONÁRIO LIBRAS/PORTUGUÊS
Descrição do material:
􀁺São dicionários bilíngües, imprescindíveis nas escolas e salas onde haja
trabalho de educação de surdos. Há, no comércio, alguns dicionários
que podem ser adquiridos e existem também apostilas montadas de
acordo com as necessidades e usos de cada região. Mas lembre-se!!!
A confecção deste tipo de material precisa ter a participação e revisão
de um grupo de surdos da região, fluente em língua de sinais.
􀁺É um recurso que deve ser consultado sempre que necessário.
Sugestões de uso:
􀁺O dicionário deve ser usado pelo professor tanto no preparo quanto no
desenvolvimento das aulas sempre que houver dúvida, que esquecer
ou que não souber determinado sinal, para não incorrer no erro de
inventar um sinal para suprir a necessidade daquele instante.
As crianças também podem recorrer ao dicionário para pesquisar as
palavras que não conhecem.
􀁺Usá-lo como recurso para copiar sinais para a confecção de jogos, fichas
e exercício de fixação.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
103
c) DICIONÁRIO CONFIGURAÇÃO DE MÃOS/PORTUGUÊS
Descrição do material:
􀁺Este é um recurso que pode ser montado com a criança no decorrer das
aulas, com o objetivo de incentivá-la a buscar sozinha as palavras que
lhe faltam para sua produção escrita.
􀁺Crianças ouvintes elaboram este dicionário a partir da primeira letra da
palavra, organizando-o em ordem alfabética. É aquele caderno, cujo
número de páginas é dividido e onde as letras do alfabeto são colocadas
na beirada das páginas, então cada palavra nova é acrescentada e junto
a ela é colada ou desenhada a figura correspondente. Só que para a
criança ouvinte ter autonomia nas suas buscas a este dicionário, ela faz
relação com o som das palavras, observe o exemplo:
Criança: – Professora, como se escreve “árvore”?
Prof.: – Árvore? Ah! Você já tem no dicionário. Onde você acha
que está escrita esta palavrinha? Com que letra ela começa?
Criança: – Árvore...ar... a... Já sei, começa com A.
Prof.: – Isso mesmo! Então encontre você mesma.
Vários professores utilizam este recurso com a criança surda mas, é claro,
isto não acontece da mesma forma. O surdo fará o sinal do que pretende escrever,
por exemplo “sinal de avião”. Não há no sinal nenhuma relação com a letra
inicial da palavra portanto, a menos que o professor lhe mostre a letra “A”, ele
não terá como procurar sozinho neste dicionário, então se perde o objetivo que
é estimular sua autonomia para escrever.
A idéia apresentada aqui é a adaptação deste modelo de dicionário onde a
base da procura não seja a letra, mas a configuração de mão. A partir da configuração
a criança encontrará a página e aí sim a figura ou sinal com o nome
escrito abaixo.
Recursos didáticos
104
Modelo:
Sugestões de uso:
􀁺Acrescentar semanalmente no caderno as palavras novas trabalhadas
em aula. A sugestão é que se reserve as sextas-feiras para revisão de
vocabulário e acréscimo do mesmo no dicionário, sendo que a criança
o leva para casa para procurar e colar as gravuras correspondentes no
final de semana.Esta atividade deve ser realizada pela criança com o
apoio ou orientação do professor ou dos pais;
􀁺Será utilizado sempre que a criança não saiba como escrever determinada
palavra;
􀁺Serve de apoio em qualquer atividade tanto nas horas de leitura e
produção textual quanto nas horas de atividades lúdicas.
d) CAIXA DE GRAVURAS
Descrição do material:
􀁺Consiste numa caixa contendo inúmeras gravuras, ricas em informações,
visualmente atrativas, que serão utilizadas de diversas formas com o
objetivo de desenvolver e explorar o pensamento e a criatividade da
criança e serão de grande auxílio para estimular a sua produção escrita.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
105
􀁺Caixa: de tamanho igual ou maior que uma caixa de camisa, com tampa,
identificada e bem decorada, de material resistente.
􀁺Gravuras: diferente das gravuras para o fichário, estas devem ser escolhidas
de forma a apresentarem riqueza de informações, que representem
acontecimentos, situações, com um ou vários personagens, lugares,
paisagens, etc. Devem ter no mínimo o tamanho de uma folha A4,para
que possam ser bem visualizadas também em trabalhos de grupo, e
coladas em papéis mais firmes (cartolina, cartão,...) pois terão maior
durabilidade.
Sugestões de uso:
􀁺Explorar elementos da gravura de forma sinalizada e escrita;
􀁺Criar frases ou textos sobre a mesma;
􀁺Imaginar o que teria acontecido antes e depois do que é visto;
􀁺Brincar com as gravuras: escolher e mostrar 3 gravuras diferentes, depois
contar uma história em língua de sinais ou escrever uma no quadro,
para que a criança indique a qual delas a história se refere; espalhar na
Recursos didáticos
106
mesa algumas gravuras viradas para baixo, para que a criança escolha
uma e invente uma história sobre ela, que pode ser registrada depois; as
crianças montam um teatro a partir de uma gravura escolhida aleatoriamente,
apresentam e depois trabalham em conjunto o registro da
experiência em diferentes tipos de texto;...
􀁺Trabalhar com interpretação escrita a partir das gravuras. Exemplo: Quem
você vê? O que está fazendo? O que acha que aconteceu antes deste
momento? Você gostaria de fazer o mesmo? De que cor é...? Quantos
..... tem nesta gravura? O que fará depois?...
􀁺Podem ser utilizadas no dia de atividades de mesas diversificadas;
􀁺Aproveitá-las em outros conteúdos curriculares.
e) CAIXA DE VERBOS
Descrição do material:
􀁺Este é um recurso bastante útil no início do trabalho com produção
textual, auxiliando a criança a expressar com mais clareza e definição o
seu pensamento na forma escrita. Muitas vezes na conversação (em
língua de sinais) o verbo é omitido ou está incorporado noutro sinal,
então quando a criança passa para o papel o seu pensamento o verbo
não aparece.
Imagine esta conversa em sinais entre o professor e uma criança surda:
Na primeira resposta o verbo “ir” foi omitido e na segunda o verbo “andar”
estava incorporado ao sinal bicicleta, e isto é muito comum de encontrarmos
na escrita de surdos que estão começando a se alfabetizar. Por isso este
recurso pode ser bem explorado, tanto para conhecimento dos verbos quanto
para esclarecer o uso adequado dos mesmos.
– Onde você foi sábado?
– Eu casa vovó.
– O que você fez lá?
– Eu bicicleta.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
107
􀁺Caixa: do tamanho de uma caixa de camisa já é suficiente, melhor se for
de material mais resistente; com tampa e identificada para que as
crianças também possam recorrer sozinhas a ela, se necessário.
􀁺Verbos: recortar gravuras bem visíveis de diferentes ações, colando-as
separadamente em folhas tamanho A4 ou ofício, com o verbo escrito
bem abaixo para que a palavra possa ser dobrada para trás em algumas
atividades. Não usar a mesma gravura para verbos diferentes para não
confundir a criança ao utilizá-la, escolha então o verbo melhor caracterizado
na figura, por exemplo: você tem uma figura em que aparece
uma pessoa sorrindo abrindo uma porta; que verbo parece destacar-se
mais – “sorrir” ou “abrir”? Escolha apenas um para montar a folha.
Sugestões de uso:
􀁺Brincar com mímica: a criança tem que pegar um verbo qualquer na
caixa e representa-lo, sem usar o sinal do mesmo, para que os demais
descubram qual foi o verbo apresentado. Se já o conhecem podem
escrevê-lo no quadro ou o professor pode ensiná-lo;
Recursos didáticos
108
􀁺Espalhar várias folhas da caixa na mesa, ou no chão, viradas para baixo
(o professor pode escolher aqueles verbos que sinta necessidade de trabalhar
com a criança ou com a turma) e cada um na sua vez terá que
escolher uma destas folhas, formar uma frase com o verbo escolhido e
registrá-la, junto à dos colegas, numa folha de cartolina. Depois de
todas as frases prontas pode-se desenvolver diversas atividades:
– destacar os verbos com canetas coloridas;
– recortar as frases, distribuí-las entre o grupo – de forma que cada
um não pegue a sua própria frase – e pedir que façam um desenho
correspondente a ela;
– usar as frases como base para a montagem de textos, individuais ou
em grupo;
– reescrever as frases em outros tempos verbais;
– recortar todos os verbos colocando-os em outras frases e trabalhar com
verdades e mentiras ou com os “absurdos” (ex: “A menina abre a casa.”
e “A menina come a casa.” ou ainda “A menina abraça a casa.”);
􀁺Para fixação da escrita dos verbos pode-se brincar com competição entre
duplas ou equipes, onde um grupo apresenta ao outro um verbo já
trabalhado e este tem que faze-lo em alfabeto manual;
􀁺Dar à criança 3 ou 4 verbos para que ela escreva uma pequena história
em que todos apareçam;
􀁺Deixar que as crianças utilizem a caixa como um mini-dicionário quando
estiverem escrevendo e não recordarem a forma escrita da ação
pensada.
f) CAIXA DE ALFABETO LIBRAS E PORTUGUÊS
Descrição do material:
􀁺Consiste em adquirir ou confeccionar com as crianças vários conjuntos
de alfabetos tanto em língua de sinais quanto em português para utilizá-
los em diferentes momentos de aprendizagem.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
109
􀁺Podem ser feitos em pequenos cartões de 2cm x 2cm, coloridos ou não,
e plastificados.
Sugestões de uso:
􀁺O professor monta palavras em alfabeto manual para a criança monta-la
abaixo em português;
􀁺Fazer pareamento de letras com os dois alfabetos;
􀁺Brincar de palavras cruzadas com o alfabeto em português;
􀁺Montar palavras e trocar letras para formar palavras diferentes;
􀁺Brincar com as letras num saco, onde uma criança tira uma letra para
que as demais apresentem sinais de objetos cujos nomes em português
comecem ou terminem com a letra escolhida;
􀁺Brincar de formação de frases onde todas as palavras comecem com a
letra sorteada. Exemplo: “C” – “Carlos comeu chocolate com coco.”
􀁺Montar bingo utilizando este recurso: figuras e letras, palavras e letras,...
Recursos didáticos
110
g) CAIXA COM HISTÓRIAS EM SEQUÊNCIA
Descrição do material:
􀁺Uma caixa com inúmeras histórias em seqüência, tendo o cuidado de
ter histórias com diferentes números de cenas.
􀁺Recortar os quadros das histórias e colá-los em papel cartão, separando
cada conjunto em saquinhos ou com clipes.
Sugestões de uso:
􀁺Pode ser utilizada para formação de frases ou textos;
􀁺Pode ser utilizada nas atividades de mesas diversificadas;
􀁺Pode ser utilizada para estimular o pensamento e a criatividade: inventar
finais diferentes, imaginar como a história continuaria, apresentar
somente os primeiros quadros e discutir com a criança as hipóteses de
término da mesma,...
􀁺Montar livrinhos de história para a mini-biblioteca da sala.
h) CALENDÁRIOS
Descrição do material:
􀁺O calendário é um recurso utilizado nas escolas, principalmente nas
séries iniciais, com o objetivo de auxiliar a criança no desenvolvimento
de noção temporal.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
111
􀁺Serão apresentadas aqui 2 sugestões de trabalho com calendário adaptados
à educação de surdos:
1) Calendário anual:
􀁺Este calendário deve ser montado em tamanho bem visível, com peças
grandes que possam ser manuseadas pelas crianças, deve ser de material
durável (EVA com velcro, feltro, imantado,...) e ficará fixado numa
parede da sala para ser trabalhado em grupo diariamente;
􀁺As peças confeccionadas deverão ter a palavra e o sinal correspondente,
sendo uma peça para cada mês, uma para cada dia da semana, uma
para cada dia do mês (número), e uma para o ano corrente.
􀁺Todas as peças podem ficar guardadas em caixinhas próximas ao calendário
para serem retiradas somente quando em uso. Porém o ideal,
bem no início deste trabalho, seria que estivessem expostas nas laterais
do próprio calendário, na seqüência correta, para que a criança tenha
uma noção completa do ano e possa estar sempre visualizando o que
vem antes e o que vem depois, quanto tempo falta e quanto já passou
de um determinado momento.
􀁺No centro do calendário ficam as informações que devem ser trabalhadas
e trocadas diariamente. Pode ter apenas palavras e sinais significativos
ou pode ter frases, por exemplo:
􀁺Mesmo podendo explorar uma visão do ano todo, este modelo de calendário
é mais útil quando a dificuldade maior da criança está na noção
de tempo imediata – o hoje, o ontem e o amanhã. Por isso a cada troca
de peças sugere-se que se desenvolva uma boa conversação sobre os
fatos que aconteceram no dia anterior e o que sabe ou espera que acon-
ANO:
MÊS:
DIA:
DIA DA SEMANA:
Estamos no ano:
Este é o mês de:
Hoje é dia:
Hoje é:
Recursos didáticos
112
teça no dia seguinte. À medida que a criança demonstre que já consegue
organizar-se e expressar-se bem nesse tempo mais próximo a ela, é
importante que o apoio visual dos dias do mês e dos dias da semana
(fixado nas laterais) seja tirado e colocado nas caixinhas, como citado
anteriormente, estimulando assim a criança a fazer essa troca, essa
descoberta diária mentalmente... até que este recurso não seja mais
necessário.
2) Calendário mensal com relatório:
􀁺Este modelo pode ser feito em tamanho grande para ser colocado num
cavalete e ser preenchido coletivamente ou ser feito em tamanho pequeno
para ser colado no caderno e ser preenchido individualmente;
􀁺Pode ser preenchido somente com números, os dias do mês, ou pode ser
preenchido com o estado do tempo e as atividades mais marcantes de
cada dia.
􀁺Deve ser preenchido e explorado dia a dia.
􀁺As folhas vão sendo acrescentadas sempre no início de cada mês, quando
deve ser desenvolvida uma conversação em língua de sinais tanto
sobre o mês que está começando quanto o que terminou.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
113
􀁺Depois se faz o relatório mensal, por escrito, em forma de texto a partir
da conversação ou em forma de questionário a partir de um roteiro de
perguntas formuladas pelo professor.
i) DIÁRIO COLETIVO
Descrição do material:
􀁺O diário pessoal é um bom recurso nas mãos da criança para incentivála
a expressar seus sentimentos e pensamentos. Também é um bom
estímulo para o desenvolvimento de sua produção escrita. Cada criança
pode ter seu próprio caderno e deve ser orientada quanto à forma de
fazer os registros diários.
􀁺A sugestão colocada aqui é que o mesmo material e uso que se faz do
diário individual se faça com um diário coletivo, onde todo o grupo
participa nas anotações feitas nele.
Recursos didáticos
RELATÓRIO DO MÊS:...........................
Quantos dias tiveram este mês?.................
Quantos dias tiveram sol?..........................
Quantos dias tiveram chuva?.....................
Quantos dias tiveram aula?........................
Quantos dias ficaram em casa?..................
Quem faltou à aula neste mês?...................
Alguém fez aniversário neste mês? Quem?
...................................................................
Quantos dias você não desenhou nada?.....
Que data comemorativa teve neste mês?
...................................................................
Desenhe o que você mais gostou de fazer
nas aulas deste mês:
114
Sugestões de uso:
􀁺Há apenas um diário para o grupo todo;
􀁺A cada dia uma criança leva o diário para casa ao final da aula para ser
preenchido;
􀁺O professor orienta seus alunos no sentido de fazerem registros do que
aconteceu em aula, dos assuntos estudados, ou daquilo que mais lhe
chamou a atenção;
􀁺No dia seguinte o registro é apresentado à turma em língua de sinais,
e o diário é passado a outro colega;
􀁺As anotações diárias podem ser aproveitadas como texto para o trabalho
de língua portuguesa.
j) CARTAZ DE ANIVERSÁRIO
Descrição do material:
􀁺Um cartaz que apresente todas as datas de aniversário das pessoas que
participam do grupo. Todos podem estar identificados no cartaz com o
seu sinal e data correspondente;
Sugestão de uso:
􀁺O cartaz pode ser aproveitado para trabalhar noção temporal através de
questionamentos sobre a proximidade ou não de um aniversário, quantos
dias ou meses faltam para o aniversário de alguém, ou para comparar
datas de nascimento entre as crianças, trabalhando com elas quem
nasceu antes e depois, quem é mais novo e mais velho,...
􀁺Todo este trabalho de questionamento deve partir de conversação
em língua de sinais, mas pode ser aproveitado também para registro
escrito;
􀁺Outra sugestão é que no dia do aniversário se faça uma linha do tempo
do aniversariante, seja com fotos, desenho ou escrita, levantando
detalhes de nascimento, família, amigos, escolas e acontecimentos
importantes na sua vida.
Idéias para ensinar português para alunos surdos
115
􀁺Utilizar os dados do cartaz para trabalhar com problemas e sentenças
matemáticas. Exemplos:
1. Nós estamos no mês de março e Ângela faz aniversário em novembro.
Quantos meses faltam?
2. André tem 10 anos e João tem 12. Quem é o mais velho?
3. Nós estamos em 2006 e Lídia fez 10 anos. Em que ano ela nasceu?
4. Quem faz aniversário daqui a 4 meses?
l) MURAL LIBRAS/PORTUGUÊS
Descrição do material:
􀁺Consiste em separar um espaço na sala para montar um mural, preferencialmente
próximo ao quadro ou numa parede facilmente visualizada
por todos. O mural pode ser de cortiça, de feltro, de ráfia, de isopor ou
de compensado; não deve ser de papel ou cartolina para que seja resistente
a troca de fichas ao longo do ano.
Recursos didáticos
116
􀁺Este é um recurso para se ter na sala e utilizá-lo durante todo o ano, com
o objetivo de ajudar a criança a fixar palavras ou expressões em português
até que possa utiliza-las sem apoio visual. Serve também para professores
que não dominam a LIBRAS ou quando se tratar de sinais
novos para eles.
􀁺Neste mural serão afixados cartões ou fichas de palavras ou expressões
que estiverem sendo trabalhadas em aula. As fichas devem mostrar
sinal-figura-palavra, ou sinal-palavra, ou figura-palavra. Também podem
ser utilizados os cartões do fichário da sala.
􀁺As fichas do mural devem ser trocadas periodicamente, sempre que se
introduz novo tema ou conteúdo ou assim que o professor perceba que
as crianças já têm condições de usar as palavras sem apoio visual.
􀁺No início da alfabetização pode-se ter um mural fixo, à parte, com as
ordens mais comuns da rotina escolar, junto com o respectivo sinal ou
desenho, para que as crianças acostumem com as mesmas. Ex: pinta,
recorta, sublinha, copia, desenha, escreve, cola, pega o caderno, guarda
o material, ...
m) BIBLIOTECA DA TURMINHA OU CANTO DA LEITURA
Descrição do espaço:
􀁺Este deve ser um espaço
aconchegante e atraente na sala
de aula, pois tem como função
estimular na criança o gosto pela
leitura. Aconchegante e atraente
não significa necessariamente
um espaço que exija uma
organização dispendiosa, mas
sim criativa.
􀁺É interessante que fique num canto da sala, que não tire a atenção de
crianças que estejam fazendo outras atividades, onde se possa sentar
Idéias para ensinar português para alunos surdos
117
no chão sobre um tapete, ou
uma colcha, com algumas almofadas.
􀁺Deve ter um lugar para colocar
os livros que pode ser uma estante,
ou uma prateleira fixada
na parede ou apenas uma caixa
grande bem decorada.
􀁺Os livros podem ser adquiridos
pela escola ou conseguidos por
doação numa campanha promovida pela própria turma, também pode
ter livros confeccionados pelas crianças em grupo ou individualmente.
Os livros devem variar em conteúdo e forma: contos de fadas, suspense
e ação, poesias, gibis, revistas,jornais, livros com e sem ilustrações,...
􀁺Este espaço pode ser aproveitado para momentos de contação de histórias
em língua de sinais e para momentos de leitura individualizada, nos
tempos livres das crianças.
Lembre-se: Estimular o gosto pela leitura é fundamental para que a
criança surda se interesse e se desenvolva melhor no conhecimento e
no uso da Língua Portuguesa!
Recursos didáticos
118
Referências
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Psychology Today. 1972.
BROCHADO, S. M. D. A apropriação da escrita por crianças surdas usuárias
da língua de sinais brasileira. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Júlio
de Mesquita Filho, UNESP, São Paulo, 2003.
CAPOVILLA, F. C. & RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado
trilíngüe da língua de sinais brasileira. São Paulo, SP: EDUSP. 2001.
CHOMSKY, N. Knowledge of Language. Praeger. New York. 1986.
CHOMSKY, N. The Minimalist Program. MIT Press. 1995.
CHOMSKY, N. Bare Phrase Structure. In WEBELHUTH, G. Government and
Binding and the Minimalist Program. Blackwell. Oxford & Cambridge USA.
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